Mumbai, Índia - Recentemente num sábado de manhã, cerca de 20 jogadores do time de futebol americano Mumbai Gladiators fizeram seus treinos semanais na popular Juhu Beach, na periferia norte desta enorme cidade com 14 milhões de habitantes.
Vestidos com camisetas vermelhas e calções pretos, os jogadores se focaram em um treino de 90 minutos que lembrava uma pelada entre amigos e não uma reunião de profissionais correndo atrás do sonho de fama e fortuna. As pessoas mais velhas e as famílias que caminhavam por ali pareceram confusas com a cena. Um casal abordou os homens para perguntar qual jogo estava sendo jogado.
E assim acontece com centenas de atletas que tentam se juntar à Elite Football League of India (EFLI), uma empreitada nova e curiosa que visa introduzir o futebol americano na Índia, Paquistão, Sri Lanka e outros países asiáticos. Talvez seja uma empreitada utópica, mas pode acabar sendo um negócio lucrativo caso o jogo alcance uma boa popularidade dentro da vasta população de fãs em potencial.
- A primeira vez que você vê os jogos, é de morrer de rir - disse Richard Whelan, um dos fundadores e chefe executivo da liga. - Mas se você assistir por mais de cinco minutos, você quer saber como termina. É uma completa piada em comparação à NFL. Mas não é uma piada em comparação a qualquer outra coisa na televisão esportiva indiana, e é apenas contra isso que estamos lutando.
A Índia não tem uma versão nacional do esporte, mas muitos jogadores na praia foram atletas de sucesso em outros esportes, incluindo judô, basquete e kabaddi, um esporte de equipes no qual os jogadores seguram a respiração e atacam uns aos outros. Vários jogadores do Gladiators disseram conhecer vagamente o futebol americano, embora já tenham ouvido falar sobre ele em filmes como "Golpe Baixo" e "Um Domingo Qualquer". Nenhum deles havia jogado sequer um pouco do jogo antes de começar a treinar em campo há um ano em Mumbai e Pune, cerca de 160 km ao sudeste. - Nós nem sabíamos que o nome era futebol americano - disse Linesh Mane, um defensive back de 24 anos e ex-jogador de basquete. - Nós achávamos que era rúgbi.
Ele completou: - É muito mais difícil do que o rúgbi.
Os jogadores na praia estavam, na verdade, em um intervalo da temporada, depois da temporada inaugural da liga, que jogou ao longo de mais de seis semanas no verão e vai transmitir as imagens nesse outono. O time estava treinando neste local, que decididamente não parecia um campo de futebol, por que ainda não tem seu próprio campo. Shailesh Devrukhkar, o técnico principal e ex-jogador de rúgbi e ex-comandante da polícia mobilizado em situações de risco como negociações com reféns, esperava que o time alugasse um campo quando eles começarem a se preparar para valer para a próxima temporada, que deve ter início na primavera.
Sob a liderança frenética de Whelan, a liga arrecadou 8,5 milhões de dólares de investidores, incluindo Kurt Warner, o quarterback aposentado da NFL, e Brandon Chillar, ex-jogador dos St. Louis Rams e dos Green Bay Packers que é descendente de indianos, e ele está confiante que outros investidores entrarão na jogada. Para manter os custos mínimos, a liga parou de pagar os jogadores fora das temporadas e, na primeira delas, dispensou estádios, ingressos e outras armadilhas da versão americana do esporte. Ao invés disso, os oito times da liga jogaram o equivalente a uma temporada inteira de jogos em um estádio em Colombo, Sri Lanka, que foi escolhido, em parte, para que o time do Paquistão pudesse jogar contra os times indianos sem precisar viajar para a Índia. Gravações com uma hora de duração de cada um dos jogos foram mostradas na televisão durante um período de três meses.
A EFLI não usará essa estratégia na sua segunda temporada, quando os jogos em várias cidades indianas serão transmitidos ao vivo. Apesar do baixo desempenho nos jogos, os fundadores da liga alegam que milhões de pessoas se interessam por esportes norte-americanos e irão assistir se indianos e paquistaneses estiverem competindo, mesmo que a maioria dos indianos nem saiba que a liga existe e que o críquete continue sendo, de longe, o esporte mais popular do país.
- O maior desafio que enfrentamos foi educar as pessoas quanto às regras, já que pode ser um jogo muito complexo - explicou Oliver Luck, ex-encarregado da NFL Europa, que acabou em 2007. - Os homens não crescem jogando o jogo, então não têm nenhuma reserva de conhecimento em que se basear.
Ultimamente, Luck disse, os fãs querem ver competição de alta qualidade, não importa qual seja o jogo, e na Índia isso significa críquete. A EFLI não se ajudou com um início discreto. Havia outros eventos principais que marcaram a primeira temporada, e os jornais indianos e as emissoras de televisão deram pouca cobertura ao assunto.
Venkat Ananth, colunista esportivo da Índia para o Yahoo, disse que ele só descobriu a liga mudando de canais na televisão. Ananth disse ter achado o jogo interessante, mas completou dizendo que a liga não teria muita audiência a menos que os jogos passassem a ser em Mumbai ou em outras cidades grandes e talvez se trouxessem os jogadores e os times da NFL até aqui para jogos de exibição.
- Você não pode impor um esporte para o público indiano - disse ele. - Você tem que construir a imagem. Trazer suas estrelas aqui, jogar um daqueles jogos como fazem na Inglaterra. Do contrário, não há razão.
Um público em potencial poderia ser composto pelas dezenas de milhares de jovens que já passaram algum tempo nos Estados Unidos. Amit Paranjape, empresário de softwares de 41 anos que estudou na Universidade de Wisconsin e morou em Dallas durante 12 anos, é fã dos Packers e dos Cowboys. Ele ficou animado ao descobrir sobre a liga, mas ficou desapontado ao saber que nenhum dos jogos seria em Pune, onde ele mora e tem um time da EFLI, os Marathas.
Mais tarde, ele passou a ver os jogos da liga na televisão, mas ele disse ter mudado de canal depois de algumas jogadas por que o nível da competição era menos interessante do que um jogo de futebol americano de ginásio.
- Era como um pesadelo - ele disse.
De fato, nos jogos da EFLI, os quarterbacks frequentemente fazem passes vacilantes que geralmente são derrubados ou interceptados. Em um jogo entre os Gladiators e os Colombo Lions, um dos running backs dos Lions, que aparentemente achou ter chegado à end zone, cravou a bola na linha de 4 jardas. Um de seus colegas de time recuperou a bola e marcou o ponto, mas os Lions perderam um ponto extra. Um dos recebedores do Gladiators deixou a bola cair no pontapé inicial seguinte.
Whelan e outros membros da EFLI estão apostando que o jogo fraco será encoberto pelas histórias fora do campo. Para esse fim, contrataram Ed Goren e Sandy Grossman, que vêm produzindo os jogos da NFL há décadas.
Grossman disse que a liga planejava adicionar mais pompa às suas transmissões e entrou em contato com executivos de Bollywood, que é famosa por produzir filmes com cenas de dança elaboradas. Por ora, ele está se focando em ensinar seu pessoal para onde direcionar as câmeras.
- Eu tive que falar com um monte de equipes diferentes que nunca haviam visto futebol americano antes - disse ele. Mas "quando os caras estão jogando, o que lhes falta em destreza sobra em entusiasmo".
Mesmo assim, Mane e alguns colegas de time estavam preocupados com o fato de que a liga não tenha participado de jogos de exibição ou tomado outras atitudes para comercializar o jogo.
- Você precisa de uma estratégia de promoção - disse Preetesh Balyaya, linha ofensiva dos Gladiators. Ele disse que ainda acredita nos fundadores da liga e não se importa de não ser pago fora das temporadas. Ao contrário de muitos outros jogadores, Balyaya tem um negócio de família para o qual voltar, caso o futebol americano não dê certo.
- O dinheiro não é o mais importante - ele disse. - Você não pode correr atrás do dinheiro. Você precisa correr atrás da paixão.
The New York Times
Futebol americano profissional indiano quer se popularizar na Ásia
Elite do esporte na índia quer introduzir o jogo no Paquistão, Sri Lanka e em outros países asiáticos
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