A conquista do bicampeonato Sul-Americano Feminino no domingo passado, na Bolívia, fez com que Caroline dos Santos Gomes, camisa 3 da Seleção Brasileira sub-17, desse o primeiro passo em busca do sonho de virar uma jogadora de futebol profissional. Com muita humildade, a zagueira, aos 16 anos, vestiu pela primeira vez a camisa canarinho do Brasil e voltou para a Vila Umbu, em Alvorada, com a medalha de ouro.
Na casa de madeira de poucos cômodos, Carol aprendeu com seu pai, o carroceiro Pedro Leandro Gomes, 42 anos, que os filhos dele não fogem à luta da vida. E foi no campinho da comunidade que a estudante do primeiro ano da Escola Estadual de Ensino Médio Mário Quintana Caic trocou os primeiros passes com a gurizada da rua.
Medalhas estão na parede da sala
Mesmo com o aval de Pedro, a atleta convive com a apreensão da dona de casa Marinês dos Santos, 38 anos, que teme pela filha, pelo simples fato de ser mãe. Porém, entregou-se ao sonho de Carol. As 34 medalhas ganhas desde quando começou a jogar no time da escola, com dez anos, estão cuidadosamente posicionadas em um prego na parede da sala. Mas há uma, em outra parede da pequena peça, que está solitária: a de ouro, conquistada na Bolívia. Ocupa um merecido lugar de honra.
Há dois anos, a atleta jogava pelo Porto Alegre Futebol Clube, na Capital. O time feminino deixou de existir e Carol, com a maioria das jogadoras, foi para a Fundação de Educação e Cultura do Internacional, hoje, Escola da Duda.
Graças aos testes no Rio de Janeiro, depois da convocação, Carol pisou pela primeira vez no aeroporto Salgado Filho e embarcou em um avião. Ao confirmarem a participação da gaúcha no campeonato, o processo de retirada do passaporte teve de ser agilizado.
Ida ao mundial é o sonho da atleta
A mãe, que estava no interior de Santa Maria, precisava assinar os documentos. E o pai só teria o dinheiro da passagem de volta de sua mulher na semana seguinte ao embarque da filha. A ajuda veio de amigos e vizinhos. Todos deram as mãos à Carol e sonharam juntos. Foram mais de R$ 300 doados pela comunidade.
- Eu chorava muito, achei que não daria tempo - lembra a jogadora, que tem cinco irmãos.
A amarelinha que vestiu Carol resplandeceu mais do que a imagem do cruzeiro. As meninas voltaram da Bolívia, no domingo, campeãs e com uma vaga no Mundial Feminino Sub-17, que será no Azerbaijão (na fronteira entre Europa e Ásia), no dia 22 de setembro.
- Entrar em campo pela seleção foi a realização de um sonho, emocionante! O peso da camiseta faz a gente tirar força de onde não tem - lembra a menina campeã.
Outra gauchinha, Kethleen Susan da Silva Estraich, 16 anos, de Viamão, com o mesmo talento, também representou o Estado na Bolívia.
Caroline quer, na várzea, em Alvorada, ou no Exterior, ver a torcida vibrar a cada bola na rede brasileira.
Conheça melhor a jogadora Caroline no vídeo: