Em 2017, o Inter pretende inverter o ditado "o ataque é a melhor defesa". O time de Antônio Carlos Zago começará atacando, a partir de seus zagueiros. Possivelmente três. O primeiro teste será neste sábado à tarde, quando o novo Inter fará um jogo-treino com o Inter, de Lages. As primeiras contratações, porém, deixam claro que a reforma do elenco começa pelo portão de entrada da casa: dois zagueiros (Neris e Klaus, que será anunciado breve) e um lateral-esquerdo (Uendel) – com mais um a caminho (Alemão, lateral-direito do Bragantino).
Leia mais:
Zago fala sobre futuro de Anderson: "Talvez seja hora para mudar de equipe"
Novo preparador físico do Inter também é o braço direito de Zago
William é "um dos cinco brasileiros que a Premier League deve ter"
Ainda que seja um admirador do trabalho do argentino Diego Simeone no Atlético de Madrid, a inspiração atual de Zago é o Chelsea, do italiano Antonio Conte, que caminha a passos largos para conquistar a Premier League. Sobretudo, o treinador do colorado demonstra grande apreço pela formação inglesa com o tiro defensivo. Zago já deixou claro a sua predileção por zagueiros que saibam jogar. E que cheguem firme. Por isso, as contratações de Neris e de Klaus (que já está em Porto Alegre e que realiza as baterias de exames exigidas pelo Inter), avalizadas por ele.
– Não sou preso a um esquema tático. Eu sou brasileiro, mas queira ou não, fiz os cursos na Itália. Se pegar o Antonio Conte, por exemplo, foi para a Inglaterra e joga com três zagueiros. E lá é aquele 4-4-2 de cem anos atrás. E ele colocou um 3-4-3, e o time é líder do Campeonato Inglês, é superofensivo, faz gols, foge das características do italiano, que é mais defensivo. Mas queira ou não, o Chelsea vem fazendo ótimas apresentações – disse Antônio Carlos Zago, recentemente, em entrevista a ZH.
O Chelsea montado por Conte tem o trio defensivo formado pelo espanhol Cesar Azpilicueta (um lateral-direito de origem, que chegou a atuar como lateral-esquerdo no Chelsea. Isso até o começo da temporada 2016/2017, quando após derrotas nos clássicos para Loverpool e Arsenal, o treinador italiano mudou o sistema de jogo, tirou o espanhol da lateral-esquerda e o transformou em zagueiro, pela direita), pelo brasileiro David Luiz (uma das grandes baixas da Seleção na Copa de 2014, mas que é um dos donos do Chelsea, onde atua centralizado) e pelo experiente zagueiro da seleção inglesa Gary Cahill (que joga pela esquerda). O primeiro Inter de Zago poderá ter Neris, Eduardo e Ernando. Nas alas – sem William, em litígio com o clube –, Ceará (mas Alemão é o alvo para ser titular) e Uendel. O meio-campo poderá ser completado por Rodrigo Dourado e Seijas, que atuava mais recuado em seus tempos de Santa Fe (ou Anselmo). Na frente, possivelmente o trio D'Alessandro, Nico López e Valdívia.
– Antonio Conte, citado por Zago, impulsionou a arrancada do Chelsea ao mudar o esquema para o 3-4-3. É possível que o Inter jogue assim, desde que a contratação de Neris funcione e que o time tenha três defensores confiáveis. Mais à frente, Zago poderia escalar Alemão e Uendel nas alas, formando o meio-campo com Dourado e Seijas. Na frente, D'Alessandro pela direita, Valdívia pela esquerda e Nico de centroavante. Minha dúvida é se D'Alessandro teria fôlego para recompor, algo que os jogadores das pontas do Chelsea fazem com frequência – observa o analista tático de ZH, André Baibich.
O esquema tático "da moda" na Europa também foi adotado em muitas partidas da temporada por nomes como Jorge Sampaoli (Sevilla) e Pepe Guardiola (Manchester City). Para o colunista de O Globo e analista do canal Sportv, Carlos Eduardo Mansur, o sistema pode dar certo no futebol brasileiro, ainda que necessite alguma entrega dos jogadores.
– Conte usa o sistema em um Chelsea que prefere reagir ao adversário, ser reativo, marcar e atacar o espaço em transição rápida. É muito forte no contra-ataque. Os três defensores dão segurança no centro da área, permitem a ocupação do meio-campo com mais homens, sem inibir a possibilidade de o time ter até três atacantes. Sejam eles pontas abertos ou mesmo homens próximos do centroavante, como fazem Hazard e Pedro ou Willian, no Chelsea, junto a Diego Costa – entende Mansur. – Por outro lado, há uma exigência física grande dos meias centrais ou dos alas. Porque, na fase defensiva, sempre é necessário que se acrescente homens à última linha de defesa. Seja a entrada do primeiro volante, criando uma linha de quatro atrás ou dos dois alas, criando linha de cinco atrás – finaliza o jornalista.
Ainda que o sistema defensivo do Inter no Brasileirão não tenha sido o único setor responsável pelo rebaixamento, ele pouco colaborou com o meio-campo ou com o ataque. A bola geralmente saía de trás com um balão. Paulo Roberto Falcão, ao assumir o Inter, chegou a decretar o fim do chutão para a frente que, segundo ele, era apenas "uma ilusão de 10 segundos", porque a posse de bola ia para o adversário. A defesa encerrou o campeonato como a sétima menos vazada, com 41 gols sofridos, mas ficou apenas nove jogos sem levar gols – tomando gols em 29 partidas. Já o ataque, foi uma indigência só. Com 35 gols, superou apenas América-MG e Figueirense, além de passar em branco em 14 das 38 rodadas do Campeonato Brasileiro. Zago quer um time equilibrado, no qual a defesa seja o melhor ataque.
* ZH Esportes