Este texto faz parte da cobertura da Copa do Mundo. A seção "A Copa da minha vida" foi publicada diariamente no caderno digital durante o Mundial do Catar, encerrado neste domingo (18).
Erechim, sexta-feira, 6 de junho de 1986
Estimada Irmã Marinês
Gostaríamos de solicitar a liberação do aluno Felipe Bortolanza das atividades da aula desta sexta-feira, a fim de ele poder assistir ao jogo do Brasil. Muito obrigado pela compreensão.
Assinado, Volmir e Maria, os pais.
Este bilhete na agenda do colégio São José está entre as minhas primeiras recordações de Copa do Mundo. Na época, não havia clima de feriado em dias de jogos. Era preciso um rito para curtir o Mundial. Sempre bom aluno (e bom filho), ganhei a permissão para ver a Seleção nas três vezes em que a tabela coincidiu com aulas: 1 a 0 na Argélia, 3 a 0 na Irlanda do Norte e 4 a 0 na Polônia. Na rodada seguinte, num sábado, não tinha aula. Tinha desclassificação nas (malditas) quartas de final: Brasil caiu nos (malditos) pênaltis para a França.
Mesmo assim, segui preenchendo a tabelinha dos jogos. Era por ali que eu vivia a competição, decorava as bandeirinhas. Sim, era um livrinho de bolso, ganho no posto de gasolina, que tinha uma pagininha para cada grupo, por fim o chaveamento até a final. Ali me restou escrever “Argentina campeã”.
Em época sem internet, sem canais esportivos na TV e com raro acesso a rádios da Capital, o miniguia era atualizado graças ao jornal que chegava todas as manhãs. Eu tinha nove anos, corria para abrir a caixa do correio. E guardo o cheiro do papel na memória.
Folheando as páginas, admirava quem tinha a chance de fazer as crônicas dos jogos. Pensava: “Eles não precisam de bilhetes na agenda”. O tempo passou e realizei um sonho. Desde o Mundial de 2002, quando era repórter do Diário Gaúcho, ajudo a escrever as histórias da Copa nos jornais da RBS. Naquele ano, contamos o Penta. De forma analógica.
Neste 2022, uma experiência digital despertou o enredo para encerrar esta seção batizada de A Copa da Minha Vida. Desde o dia 20 de novembro, ZH publicou cadernos digitais sobre a Copa. Assim, o leitor habituado com o formato de página teve acesso a notícias, opiniões e tabelas pouco depois dos jogos (imagino a alegria se isto existisse na minha infância...).
Na memória, desta vez, não restará cheiro de papel-jornal. Fica o gosto de capas inusitadas, o calor de ter formado um time tri. A manchete final sonhada era “Somos Hexa”. Mas, como em 1986, escrevi “Argentina campeã”.
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