Lelê, meu colega de Bola nas Costas, papai recente, disse, ano passado, que Messi estava em decadência. Foi um delicioso bate boca o que seguiu depois de uma declaração feito míssil como essa.
Lelê ria, a gente também, e toda vez que o argentino entra em pauta, lembramos de Lelê. Meu colega tem razão. Decadente é o que estamos em relação a várias coisas da vida.
Meu caso, por exemplo. Meus cabelos estão morrendo, minha barriga aumentando. Meu preparo físico, meu humor, paciência e libido. Toda essa turma está em vertiginosa decadência.
Messi está decadente. O auge passou. O topo da montanha foi alcançado. Os números de gols, assistência e taças diminuíram. Inevitável. Para todos. E, na maior montanha da vida de um jogador de futebol, a Copa, na sua quinta tentativa de fincar a bandeira argentina lá, Messi começou pecando.
A Arábia Saudita venceu Messi. De virada. A maior vitória da história do futebol árabe aconteceu pertinho do monte Safa, veja só.
Ele foi o cenário de uma das histórias que vem sendo contada há centenas de anos e que você já ouviu: "Se Maomé não vai à montanha, que a montanha venha até Maomé". O negócio foi um grande acontecimento.
Monte Safa
Maomé queria provar aos novos súditos a potência da religião que criara. Firme como um zagueiro saudita, Maomé ordenou que Safa viesse até ele! Venha, montanha! Venha até a mim! Não sabemos quantos gritos de ordem foram. Mas o monte Safa disse que não. Não moveu uma pedra!
Mas Maomé tinha a manha da lábia. O povo que estava ali, sem ver o monte chegar até eles — o que seria um milagre para provar a força da nova religião —, recebeu uma prova da existência do "novo" Deus que surgia. Maomé explicou com audácia: "seguinte: Alá é misericordioso. Se Ele tivesse ouvido minhas palavras, a montanha iria cair sobre nossas cabeças". Esperto, não é?
Pois o Monte Safa fica na Arábia Saudita — do habilidoso Aldawsari, autor do belo segundo gol. Única fronteira terrestre do Catar. Agora, Messi tem a sua montanha, o seu Safa para chamar para si. O povo argentino espera isso dele há cinco Copas. Problema é que no futebol uma lábia como a de Moisés não serve para nada. Lionel vai ter que ir à montanha para salvar sua religião. E para não ouvir mais a palavra decadência da boca de Lelê.