Atual campeã mundial e um dos times mais badalados do planeta, a França jogará como "visitante" nesta quarta-feira (30), contra a Tunísia. Conhecida pela sua torcida apaixonada e dona de uma das maiores colônias do Catar, o país africano transformará o Estádio da Educação em um verdadeiro caldeirão para buscar a difícil vaga nas oitavas de final. Soma-se a isso um outro elemento, que promete transformar o jogo em um duelo eletrizante: a rivalidade entre tunisianos e franceses por conta da relação colonial que as duas nações tiveram nos séculos XIX e XX.
— Ganhar da França sempre tem um sabor especial para nós, é como um clássico. Os argelinos e marroquinos também têm o mesmo sentimento. Além disso, vários dos nossos jogadores nasceram na França e foram formados no futebol francês. Será um jogo especial — conta a GZH o jornalista tunisiano Arafat Hamrouni, do site Foot24, que cobre a equipe africana no Catar.
Dona de uma história milenar, terra dos povos fenícios e berço da cidade de Cartago, um dos maiores polos de poder da Antiguidade, a Tunísia tornou-se uma colônia da França na segunda metade do século XIX, dentro do contexto de colonização francesa da África. Os tunisianos só conquistariam a independência em 1956, após quatro anos de luta armada.
Batalha, porém, é o que a Tunísia precisará fazer para conquistar a vaga nas oitavas de final da Copa. Afinal, mesmo com uma vitória diante dos franceses, os africanos precisarão torcer por resultados paralelos. Contudo, ainda que a matemática seja complicada, a torcida promete lotar o Estádio da Educação, em Al-Rayyan, e a própria França reconhece que a sua torcida será minoria.
— Sabemos que vamos jogar fora de casa. O adversário terá uma grande atmosfera, pois haverá muitos tunisianos no estádio— disse o técnico francês Didier Deschamps.
Além de a torcida francesa não ter viajado em bom número a Doha para assistir à Copa, a Tunísia tem uma das maiores colônias do país árabe
— O Catar é o segundo maior destino dos imigrantes tunisianos, atrás apenas da França. Trinta mil tunisianos vivem aqui no país. Além disso, cerca de 5 a 10 mil pessoas viajaram da Tunísia para assistir ao Mundial. Logo, devemos ter entre 35 mil a 40 mil tunisianos no Catar agora. Por isso, a nossa torcida vai lotar o estádio — explica Hamrouni.
O zagueiro da Tunísia Montassar Talbi disse que a força da sua torcida apaixonada será uma das principais armas para surpreender a França.
— Os nossos torcedores são muito importantes, pois eles apoiam e cantam o jogo inteiro e dão muita importância e força para a seleção. Na derrota para a Austrália (por 1 a 0), mesmo quando tomamos o gol, os torcedores seguiram cantando e nos apoiando. Este jogo será uma grande chance para construirmos algo incrível no Mundial. Vamos fazer de tudo para, ao final da partida, nós comemorarmos junto com a nossa torcida — explicou.
Pata avançar às oitavas de final, a Tunísia precisa vencer a França, secar a Austrália contra a Dinamarca e, ainda por cima, superar uma diferença no saldo de gols. Mesmo diante da dificuldade, o time africano não joga a toalha.
— Nada é impossível. Estamos vivos e prontos para essa batalha — resumiu o técnico Jalel Kadri.