No momento de maior proximidade, as câmeras vão identificar objetos de até 70 metros. Nesta manhã, a Nasa promete imagens com qualidade 5 mil vezes maior do que era possível antes.
Às 8h49min57s de terça-feira, durante uma incursão inédita pelo fundo do quintal do Sistema Solar, a humanidade vai espreitar pela primeira vez as intimidades de Plutão. Nesse horário, depois de nove anos de viagem, a sonda New Horizons estará a apenas 12,5 mil quilômetros da superfície do planeta-anão.
Dessa distância, a menor durante a jornada, suas câmeras e instrumentos de medição vão desvendar os mistérios de um corpo celeste que, até agora, era pouco mais do que um borrão na lente de telescópios localizados a 5 bilhões de quilômetros.
Quando a sonda do tamanho de um piano foi lançada pela agência espacial norte-americana (Nasa), em janeiro de 2006, Plutão ainda era classificado como planeta. Seis meses depois, em uma assembleia da União Astronômica Internacional (UAI), perdeu o status.
Apesar do rebaixamento, nesta terça-feira ele terá seu dia de protagonista. No mundo todo, astrônomos aguardam com ansiedade o momento em que poderão dar uma boa olhadela nos recônditos da anatomia plutoniana.
- A sonda vai passar a uma distância muito pequena. Será um voo rasante. Vamos saber como é a atmosfera, qual é a composição química do planeta, se existe vulcanismo de jatos congelados. São informações que nunca tivemos. Vamos descobrir como Plutão é - explica o o astrônomo Enos Picazzio, da Universidade de São Paulo.
O que já foi possível espiar deixa os cientistas excitados. Imagens captadas pela New Horizons nos últimos dias, durante a fase de aproximação, foram reveladoras. Descobriu-se que Plutão é maior do que se pensava, tem gelo nos polos e apresenta escapes de nitrogênio.
Detectou-se também uma diferença marcante entre os hemisférios sul e norte. As partes meridionais de Plutão revelaram-se montanhosas e acidentadas, com muitas variações de terreno.
- Não tínhamos a menor ideia disso. Essa região onde ele se encontra é muito vasta e desconhecida - revela Picazzio.
Plutão é um grande mistério desde a sua descoberta, 85 anos atrás. Por causa da distância - fica 40 vezes mais longe do sol do que a Terra - não se sabia sequer do que ele era feito. Picazzio observa que, até Marte, os objetos são de natureza rochosa. De Júpiter a Netuno, têm características gasosas.
Na vasta área que se segue, na qual está inserido o planeta-anão, a composição era um enigma até a descoberta de Caronte, satélite de Plutão. Graças a isso, foi possível determinar a massa aproximada do objeto e inferir que sua densidade não era nem de sólido, nem de gasoso, mas qualquer coisa de intermédio.
A New Horizons está equipada com sete instrumentos de medição que vão permitir ir muito além dos conhecimentos rudimentares de hoje. A sonda vai bater fotos, detectar gases, medir distâncias, escanear superfícies, analisar a geologia e detectar temperaturas - inclusive no lado de trás de Plutão, jamais vislumbrado.
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- O que nós já recebemos da sonda é inacreditável. Vai além dos nossos sonhos mais loucos. Mas a resolução de nossas imagens ainda vai passar de 15 quilômetros por pixel para menos de 100 metros por pixel. Para se ter ideia do nível de precisão das imagens, se o Central Park estivesse em Plutão, a qualidade de nossas imagens permitiria observar as lagoas do parque - entusiasma-se Alan Stern, um dos engenheiros do projeto.
As novas informações não devem ter nenhum impacto no atual status do corpo celeste como planeta-anão, alvo de grande controvérsia nove anos atrás. Basílio Santiago, professor do departamento de astronomia da UFRGS, observa que os parâmetros que levaram a UAI a se definir pela reclassificação não têm relação com características específicas do corpo, que serão coletados agora.
O desnudamento de Plutão é considerado decisivo pelos astrônomos por um outro motivo: porque representa uma espécie de viagem às origens do Sistema Solar - e da própria Terra. Os objetos da região, diz Basílio Santiago, despertam enorme interesse porque são resquícios do processo de formação do Sol e dos planetas:
- Como são as sobras desse processo e como a região externa do Sistema Solar é muito fria, as características e a composição química remetem ao período de formação. A química da Terra é hoje muito diferente da original, mas objetos como Plutão não passaram por modificação. Neles estão impressos os primórdios. Vamos saber como era a composição do Sistema Solar quando ele estava se formando.
Os primeiros retratos em close de Plutão devem chegar ainda nesta terça ao centro de controle da missão, nos arredores de Washington. Até que a totalidade dos dados colhidos seja enviada, contudo, podem transcorrer seis meses, devido a limitações no ritmo de transmissão.
Depois da passagem pelo planeta-anão, a 49 mil km/h, a New Horizons ainda continuará suas explorações no cinturão de Kuiper - uma área repleta de pequenos corpos celestes como novos mistérios por desvendar.