Pagar para trabalhar de graça pode parecer loucura, mas é justamente o que muitos jovens andam fazendo nos chamados intercâmbios sociais. Explicando melhor: o trabalho, em países que não estão entre os destinos turísticos mais procurados, é voluntário, e a experiência é cada vez mais valorizada pelo mercado e por instituição de Ensino Superior estrangeiras.
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Quem participa de um intercâmbio social aponta que os objetivos são diferentes de uma experiência de estudos no Exterior. Ainda assim, o aprendizado de uma língua - principalmente o inglês, mesmo em países como África do Sul e Índia - é inevitável porque, durante os dias de trabalho, convive-se intensamente com o idioma estrangeiro. Mas a maior diferença é também apontada como a melhor parte da experiência: no voluntariado, o foco é ajudar os outros.
- Você aprende a dar valor às coisas vendo a realidade de outro país. Eu fiz o intercâmbio para ensinar, mas acabei aprendendo muito com eles - conta Verônica Petry, que faz pós-graduação em Administração e foi ao Peru há cerca de um ano, onde trabalhou voluntariamente em uma escola de Ensino Fundamental.
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A duração do intercâmbio também é diferente: como se vai trabalhar fora, há um limite de tempo, de três meses, permitido com o visto de turista. Os programas costumam durar de seis a oito semanas. No caso de Verônica (foto abaixo), a experiência durou um mês, segundo ela, pouco, mas muito bem aproveitado.
Entre os benefícios do trabalho voluntário no Exterior está a valorização do currículo. A experiência é bem vista por empregadores por demonstrar características como autonomia, proatividade e interesse social. Nas seleções para universidades estrangeiras, onde o que se busca em meio a muitos bons alunos é um diferencial, o intercâmbio também conta pontos.
Experiência valiosa
Para as amigas Kellen Matte (foto abaixo) e Lara Orso, foi a oportunidade de definir o rumo da carreira. Estudantes de Veterinária na Ulbra, elas foram à África do Sul em 2013 para cuidar de animais. Essa é outra forma de intercâmbio voluntário: a ambiental.
- Aprendemos a lidar com animais, mas também com pessoas. Vimos que a ideia que eles têm de nós, e nós deles, é completamente diferente da realidade. A cultura de lá nos acrescentou bastante. É uma experiência que vou levar para o resto da vida - garante Kellen.
Qualquer pessoa com mais de 18 anos pode fazer um intercâmbio social. O público que mais participa, porém, é aquele em idade universitária. E, para essa turma, as oportunidades podem inclusive ser direcionadas: os voluntários da área médica podem cuidar da saúde de pessoas em outros países, enquanto administradores em formação podem ajudar no gerenciamento de organizações não governamentais (ONGs), por exemplo. Quem já passou por uma experiência assim garante: a viagem ganha muito mais significado quando é feita por uma boa causa.
Lugares
O repertório é variado, mas inclui principalmente países com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). África, Ásia e Leste Europeu estão entre os destinos mais oferecidos. A viagem a países como os Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, não costuma ser incentivada.
Duração
A experiência varia entre duas semanas e três meses - tempo máximo permitido pelo visto de turista na maioria dos países visitados. As atividades vão desde cinco até sete dias por semana, e a carga horária fica entre quatro e oito horas por dia.
Trabalho
As experiências são divididas em dois grupos: o social - que envolve pessoas, geralmente crianças e idosos - e o ambiental - em que o trabalho é feito com animais, englobando ações de sustentabilidade. Dentro de cada área, as opções são inúmeras: é possível trabalhar com educação, preservação e gestão, por exemplo. Não é exigida experiência anterior.
Onde se vai trabalhar também depende do voluntariado escolhido. Um intercâmbio na área da saúde pode levar a organizações médicas internacionais, enquanto a experiência com crianças e jovens pobres ocorre em escolas. O trabalho geralmente é feito em parceria com ONGs.
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Requisitos
É preciso ter no mínimo 18 anos para participar desse tipo de programa. Também se exige inglês - ou espanhol, no caso da América Latina -, em nível ao menos intermediário, para permitir a comunicação no local de trabalho. Vontade de interagir com outras culturas e muita disposição são fundamentais para a atividade.
Aprendizado
Como todo intercâmbio, o social também é uma oportunidade para se ter contato direto com outra língua. Ou outras, afinal, há pessoas de todo o mundo participando desses projetos e, além de aprimorar o inglês, também se pode conhecer diversos idiomas.
O aprendizado está também no contato direto com outras culturas. A rede de relacionamentos que se faz lá fora pode ser um grande impulso pessoal e profissional.
Valorização
Quem procura uma experiência de voluntariado no Exterior costuma ser incentivado pela própria vontade de ajudar os outros. Mas esse intercâmbio pode trazer vantagens profissionais.
- O trabalho voluntário dá essa noção de que a pessoa evoluiu, saiu da sua zona de conforto e se projeta em outro mundo. É sempre visto com bons olhos pelos empregadores - garante a supervisora da rede de intercâmbio CI na Região Sul Ana Flora Bestetti.
Por que não no Brasil?
Voluntários apontam o grande diferencial de uma experiência fora do Brasil.
- O principal é você não ter a chance de desistir e voltar para casa tão facilmente. Sem essa comodidade, o voluntário consegue se desafiar e superar problemas - garante Gabriela, da Aiesec.
Custo
Os valores oscilam de acordo com o destino e a duração do intercâmbio, mas costumam ficar entre 600 e 2 mil euros, o equivalente a R$ 2 mil e R$ 7 mil, na cotação de 23 de junho. Acomodação e alimentação geralmente estão incluídas nesse valor, mas é preciso se informar se é oferecida passagem aérea, que muitas vezes fica por conta do interessado.
Informe-se
Há três caminhos básicos: por meio de uma agência de intercâmbio, da Aiesec - organização internacional que encaminha universitários para intercâmbios - e diretamente com uma ONG. Enquanto uma agência vai garantir moradia, geralmente no local de trabalho, a Aiesec valoriza a acomodação com famílias. ONGs deixam isso por conta do intercambista ou oferecem hospedagem compartilhada. Saiba mais nos sites de Aiesec, Voluntários das Nações Unidas, Volunteer Southern Africa, Global Volunteers, Programa de Voluntariado do Sudão, GoVoluntouring.
* Zero Hora