Após dois anos parado para manutenção, o maior acelerador de partículas do mundo foi religado, e com um plano ambicioso: abrir nova fronteira para a ciência e fazer descobertas sobre as origens do universo.
Em Genebra, o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern) retomou os trabalhos do acelerador de partículas, desta vez, com uma potência duas vezes superior àquela que foi utilizada para descobrir o Bóson de Higgs - a partícula elementar que dá massa a outras, como o elétron -, um dos maiores feitos da história da física.
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O acelerador, conhecido como LHC, custou US$ 8 bilhões e levou mais de 20 anos para ser projetado e construído. Hoje, o túnel de 27 km, que fica situado cerca de 30 andares abaixo de Genebra e de parte do território da França, é considerado um dos exemplos da cooperação internacional.
Ao fazer prótons circularem pelo túnel a uma velocidade recorde, os cientistas promoverão choques para simular o que teria sido os instantes que se seguiram ao big-bang. Quatro aparelhos detectam as imagens desses choques, com até 40 milhões de "fotos".
Apesar de confirmar a teoria de Higgs e de revelar dezenas de outras informações sobre a origem da matéria, o projeto frustrou alguns cientistas por não trazer outras novidades. A opção em 2012, portanto, foi usar uma pausa já planejada, suspender os trabalhos e desligar o acelerador. A pausa seria usada para manutenção e para incrementar mais a potência do que já era o maior experimento da física.
Experimentos
As colisões de prótons ocorrerão a uma energia de 13 trilhões de eletronvolts, algo jamais visto.
- Agora, o trabalho duro começa - afirmou Rolf Heuer, diretor-geral do Cern.
- Depois de dois anos de esforços, o LHC está em grande forma - disse o diretor de aceleradores, Frédérick Bordry.
Segundo ele, os choques vão começar a ocorrer a uma energia reduzida e, gradualmente, o acelerador ganhará um novo ritmo.
- O passo mais importante ainda está por chegar, quando aumentarmos a energia a níveis recordes - diz Bordry.
Uma das esperanças é de que as descobertas ajudem a montar um quebra-cabeça que muitos consideram sem solução: a revelação da natureza da matéria escura.
Cálculos baseados em interações gravitacionais entre galáxias sugerem que há cinco vezes mais matéria escura no universo do que matéria comum, o que forma parte das coisas que podem ser vistas. O problema é que ela ainda não foi detectada diretamente nem suas características foram identificadas.
Ao repetir o momento posterior ao big-bang, a meta dos cientistas é justamente criar condições para que se possa constatar a matéria escura.
*Estadão Conteúdo