Cometas estão entre os "nômades" mais bonitos e menos entendidos do céu. Alguns desses corpos celestes já foram visitados por espaçonaves que tentaram descobrir os seus segredos, mas todas essas missões tiveram algo em comum: passaram voando rapidamente pelo cometa, uma pressa que impedia qualquer estudo mais minucioso. Isso até o despertar da sonda Rosetta, que vai tentar "pegar carona" em um cometa em novembro.
A missão da Agência Espacial Europeia tem o objetivo de observar uma dessas bolas de gelo e poeira por meses a fio. A sonda Rosetta está programada para, após os 16 meses de hibernação, "acordar" nesta segunda-feira e seguir rumo à rota do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, que vai "mergulhar" no Sistema Solar e se transformar, de um pequeno mundo congelado, em uma grande massa de gelo e poeira, cheia de erupções, miniterremotos e jatos de dióxido de carbono e cianido.
- Estaremos observando este cometa do camarote - diz Claudia Alexander, projetista do Jet Propulsion Laboratory (JPL), da NASA, agência americana que apoia a missão europeia.
A sonda conta com 25 instrumentos que devem trabalhar juntos para criar a "imagem mais completa de um cometa até a data, informando como o cometa funciona, do que é feito e o que ele pode nos dizer sobre as origens do Sistema Solar", afirma Sam Gulkis, cientista do JPL.
A aterrissagem deve acontecer em 14 de novembro no 67P/Curyumov-Gerasimenko, viajante entre a órbita da Terra e a de Júpiter, e render imagens em alta resolução, além do mais detalhado estudo de um cometa já feito pelo homem. Desde 2004, quando foi lançada, a Rosetta já orbitou o Sol cinco vezes e sobrevoou Marte e os asteroides 21 Lutetia e 2867 teins.
- Os cometas ainda guardam vestígios da matéria original que, de certa forma, dá origem ao nosso Sitema Solar. Então esses vestígios podem representar elementos intactos (ou os mais intactos possíveis) do passado do nossos sistema: a matéria que deu origem aos planetas, aos satélites e aos asteroides - explica Marcelo Bruckmann, do Laboratório de Astronomia da Faculdade de Física da PUCRS.
A arqueologia não termina aí. A cauda dos cometas é, basicamente, gelo, e grande parte da água no nosso planeta veio, justamente, de cometas:
- No nosso passado, eles colidiam com mais frequência contra a Terra. A água foi acumulando e ficando. De certa forma, os cometas organizaram a vida como a gente conhece - diz Marcelo, acrescentando que entender a dinâmica desses astros também contribui para bolarmos estratégias de defesa caso a Terra esteja na rota de alguma nova colisão.