As próximas missões espaciais à Lua, como as planejadas por China e Índia, poderão ser prejudicadas pela poeira espacial, uma ameaça pouco conhecida e subestimada que pode afetar máquinas e seres humanos, advertem os cientistas.
Simulações conduzidas por pesquisadores franceses e britânicos mostram que, em certas zonas da Lua, a poeira torna-se uma força eletrostática que supera a da gravidade lunar, de acordo com uma apresentação durante a conferência anual da Royal Astronomical Society britânica realizada em Edimburgo.
Resultado: a poeira lunar permanece suspensa acima da superfície do solo, formando uma nuvem cinzas de partículas minúsculas pegajosas e abrasivas que dificultam a visibilidade, cobrem os painéis solares e infiltram-se nas menores brechas dos mecanismos, alertam os pesquisadores.
Além disso, como alguns tipos de poeira lunar são ricos em ferro, podem também ser tóxicos para os seres humanos se entrarem por entre suas vestimentas.
Para Farideh Honary, da Universidade britânica de Lancaster, a poeira lunar já havia sido identificada como um potencial risco para os astronautas americanos das missões Apollo, mas só agora é que os cientistas estão começando a pesquisá-la mais profundamente, com o interesse renovado de alguns países em realizar missões à lua.
- Precisamos estudar a poeira com mais detalhes e fazer mais medições antes de enviar missões tripuladas - declarou Honary.
Em uma simulação de computador apresentada esta semana em Edimburgo, a pesquisadora demonstrou que a poeira não se comporta da mesma forma em toda a superfície da lua.
A força eletrostática que a faz levitar e aderir a superfícies está relacionada à exposição aos raios ultravioletas do sol, que repele os elétrons - com carga negativa - e, assim, dão à poeira uma carga elétrica positiva.
Mas, por outro lado, à noite ou na sombra, o vento solar (fluxo de partículas emitidas pelo Sol) atrai os elétrons de poeira, dando-lhes uma carga negativa.
Em outras palavras, é principalmente nas zonas da Lua onde o Sol está se levantando ou se pondo que a poeira mais se movimenta, quando as partículas de poeira com cargas elétricas opostas se atraem, em vez de cair no chão discretamente sob a influência da gravidade.
- Os engenheiros realmente devem levar isso em conta - ressalta Farideh Honary.
Segundo ela, uma boa opção seria a construção de veículos para andar na superfície da lua ("rovers") em forma de cúpula, permitindo que a poeira caia mais facilmente. Já um veículo em forma de caixa, muito angular ou com superfícies ásperas ou muito planas, tenderia a acumular poeira, o que seria prejudicial ao funcionamento deste.
A China anunciou recentemente que pretende enviar um robô de exploração à Lua no segundo semestre deste ano, para realizar um levantamento da área.
As autoridades indianas também sugeriram o envio de um rover em 2015.