Garantir um diploma binacional e obter a possibilidade de atuar em dois países diferentes pode ser um passo importante na hora de ingressar no mercado de trabalho. Por meio de uma parceria entre a Universidade Tecnológica do Uruguai (UTEC), a Direção Geral do Ensino Técnico Profissional (DGETP-UTU) e o Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), esse processo se torna possível para estudantes brasileiros.
Com o período de pré-inscrições abertas, o convênio entre as instituições oferece a possibilidade de ingresso nos cursos gratuitos de Tecnólogo em Mecatrônica Industrial, agora expandido para Engenharia em Controle e Automação, e Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Ambas formações, ainda que distintas no que diz respeito ao composto curricular, dispõem de professores qualificados e metodologias atualizadas, que asseguram o processo de aprendizagem de forma dinâmica e inovadora.
O curso de Tecnólogo em Mecatrônica Industrial forma profissionais especializados no desenvolvimento, implementação e manutenção de sistemas automatizados e integrados em processos industriais. Sua grade curricular combina conceitos de mecânica, eletrônica, informática e controle, preparando os profissionais para as demandas de otimização e aumento da eficiência das operações industriais.
Já o curso de Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas oferece uma formação binacional em software, que prepara os graduados para atuar com planejamento, análise, desenvolvimento, teste, implementação, manutenção, avaliação e utilização de tecnologias emergentes, voltadas ao desenvolvimento de sistemas computacionais. Em 2024, este curso já está com o período de pré-inscrições encerradas para brasileiros, mas, de acordo com a instituição, deve abrir uma nova oportunidade de ingresso em junho do ano que vem.
Para se inscrever para o curso de Tecnólogo em Mecatrônica Industrial, os estudantes interessados devem preencher o formulário disponível neste link até o dia 21 de fevereiro. Em caso de dúvidas, os candidatos podem entrar em contato pelo e-mail sl-corac@ifsul.edu.br.
A UTEC dispõe, ainda, de outras formações – como Engenharia em Logística e Licenciatura em Engenharia de Dados e Inteligência Artificial. Ainda que não sejam binacionais, esses cursos destinam 10% de suas vagas a estudantes estrangeiros. Candidatos com ensino médio concluído no exterior podem solicitar ingresso apresentando o comprovante de conclusão dos estudos realizados em seu país de origem.
Para o diretor da UTEC Norte, Felipe Fajardo, a iniciativa é uma oportunidade de romper barreiras territoriais e levar o conhecimento ainda mais longe, qualificando a formação de jovens não somente do Uruguai, mas também das regiões vizinhas ao país.
– O desenvolvimento da integração regional permitiu gerar oportunidades significativas no ensino superior para a região nordeste do Uruguai e sul do Rio Grande de Sul. Por meio da combinação das diferentes capacidades de diversas instituições, é possível realizar propostas educativas e processos de pesquisa e desenvolvimento muito mais potentes do que se executados isoladamente – afirmou o gestor.
Em entrevista, Fajardo destaca os ideais da Universidade Tecnológica do Uruguai, no que diz respeito às políticas de intercâmbio da instituição, e fala sobre a possibilidade de novas parcerias com instituições de ensino do Brasil.
A Universidade Tecnológica do Uruguai conta com quantos estudantes brasileiros?
Temos cerca de 60 brasileiros matriculados. Entre eles, alunos do Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, do Tecnólogo em Mecatrônica Industrial, da Engenharia Logística e do Bacharelado em Engenharia de Dados e Inteligência Artificial.
Por meio de um convênio com o IFSul, a UTEC possui dois cursos com metade das vagas destinadas a estudantes brasileiros. Como surgiu essa colaboração?
Ela está na origem da instalação da UTEC em Rivera, a qual se definiu basicamente pelo potencial do aspecto binacional da região. Os cursos binacionais de educação técnica secundária do IFSul e da Direção Geral de Educação Técnica Profissional do Uruguai (DGETP-UTU) foram tomados como exemplo e, a partir deles, foram construídas as propostas atuais.
Existe uma expectativa de ampliar os convênios binacionais com instituições de ensino brasileiras?
Recentemente, foi assinado o acordo para criação da Rede Bioma Pampa, iniciativa que reúne diversas instituições de ensino superior da região e que já desperta o interesse de participação em outras universidades da América Latina. Abrem-se, a partir daí, diversas possibilidades de parceria e construção coletiva no âmbito desta rede.
O gerente educacional da UTEC Norte, Marcelo Ubal, explica como funciona a estratégia pedagógica da instituição para contemplar os estudantes dos dois países.
De que forma é organizada a abordagem pedagógica nos cursos binacionais?
Os cursos binacionais entre IFSUL, UTEC e UTU não são uma proposta educacional convencional. É um compromisso inovador que rompe com os esquemas tradicionais de formação técnica e tecnológica, apostando numa educação profundamente ligada à realidade social e produtiva da região.
Um dos aspectos centrais é a forma como concebem a aprendizagem. Transmitir conhecimento é essencial, mas não suficiente. O que se busca é formar profissionais capazes de compreender os desafios do seu ambiente e gerar soluções concretas. Neste contexto, a relação entre teoria e prática passa a ocupar um lugar central. O que se busca é ancorar o conhecimento diretamente em problemas reais, transformando a sala de aula em um laboratório.
Considerando os pilares de pesquisa e extensão, como a gestão identifica o processo de construção não só técnica, mas social dos estudantes?
Outro aspecto característico da proposta pedagógica dos cursos binacionais é contribuir para a formação de profissionais comprometidos, cidadãos que compreendam o seu papel social. Portanto, pesquisa e extensão são componentes fundamentais. Os alunos não são simples receptores de informações, mas protagonistas que aprendem a gerar conhecimento por meio da pesquisa e a retribuir parte do que recebem da sociedade por meio da extensão.
O compromisso com a democracia e a república é outro pilar da formação pública binacional. Neste sentido, a formação de pessoas solidárias, críticas e responsáveis pelos outros é uma forma privilegiada de contribuir para a formação de cidadãos comprometidos com a melhoria das condições de vida da nossa região e dos nossos países.
Ainda em contato com a equipe multidisciplinar da instituição, a coordenadora de psicopedagogia da UTEC, Mikaela Pivani, destacou os apoios institucionais voltados aos alunos matriculados na universidade.
– Para garantir um processo de aprendizagem pleno, assegurando as condições necessárias, a UTEC dispõe de apoio alimentar aos alunos em situação socioeconômica complexa, de acordo com as bases da convocação, bem como empréstimo de computadores e equipamentos – explica.