A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) contabiliza mais um possível caso de racismo: dois acadêmicos negros teriam sido vítimas de um ataque verbal na Avenida Roraima, que dá acesso à instituição, na quarta-feira (10). Ao longo do ano passado, entre agosto e novembro, o campus principal, em Santa Maria, contabilizou três outros casos que ainda são investigados pela Polícia Federal (PF). As denúncias da época dão conta de que frases de cunho racista foram dirigidas a alunos negros, além de escritas nas paredes de uma sala da UFSM. Uma suástica também foi desenhada.
Desta vez, conforme ocorrência policial, dois universitários – de 19 e 23 anos – seguiam em direção a uma agência da Caixa Econômica Federal dentro do campus principal quando um homem os abordou e proferiu a seguinte frase:
— Seus nego sujo (sic), vai lavar esses cabelo (sic).
Frente à abordagem, uma das vítimas teria apontado o dedo para o agressor e ouvido uma ameaça:
— Vocês vão ver.
Ainda de acordo com as informações do boletim de ocorrência, registrado na Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA), o homem recolhia lixo na avenida e, ao ver os acadêmicos, deu início às ofensas. Os serviços de coleta de lixo dentro da universidade são realizados por duas empresas e por associações de recicladores, mas não se sabe se o possível agressor é vinculado a uma delas.
Para preservar a imagem dos alunos, a instituição não divulgou a identificação e o curso dos acadêmicos. GaúchaZH fez contato com um deles, que preferiu não se manifestar.
Apuração
O caso terá o acompanhamento interno da UFSM e também será instaurada uma investigação por parte da Polícia Federal (PF), uma vez que se trata de uma autarquia federal.
O delegado da PF Diogo Caneda afirma que aguarda um comunicado por parte da gestão do reitor Paulo Burmann para dar início à apuração do caso. Do lado da universidade, o vice-reitor Luciano Schuch adianta que já foram solicitadas as imagens de segurança que dão acesso à Avenida Roraima.
— Soubemos há pouco dessa situação que nos entristece muito. Esses acadêmicos não realizaram nenhuma ocorrência ou comunicado interno. Vamos buscar as imagens de segurança. Somos um campus de diversidade e esses atos, ainda que isolados, não podem macular a nossa imagem. Mas posso garantir que, se esse envolvido for da comunidade interna, sofrerá as punições previstas pelos códigos internos — pontua o vice-reitor.
Sobre os casos anteriores, Caneda afirma que as investigações seguem em curso. Ele admite haver dificuldade em dar um desfecho aos casos, já que, entre as medidas adotadas, estiveram a análise da caligrafia para tentar identificar os autores.
Dos mais de 30 mil alunos da UFSM, 2,4 mil deles são negros, pardos ou indígenas.