Comprar carro novo vai ficar mais caro em 2025. Os automóveis, assim como diversos outros produtos no mercado, também sentem os efeitos da alta do dólar e tendem a ter preços reajustados nas revendas para acomodar a oscilação.
Em patamar de alta histórica desde o final do ano passado, a moeda norte-americana baliza uma série de componentes presentes nos veículos. Os reflexos da valorização ocorrem em mais de um momento, explica o consultor automotivo Milad Kalume Neto.
Primeiro, aparecem nos materiais básicos. Os carros são fabricados em ferro, alumínio, cobalto, borracha, ou seja, elementos dolarizados e comercializados em bolsa. Quando sobe o dólar, os materiais também sobem e elevam o preço final dos veículos.
Além disso, os carros fabricados no Brasil possuem vários outros componentes importados, como os itens eletrônicos. Os subprodutos e autopeças comprados de outros países refletem a diferença da cotação.
— Esses movimentos juntos, somados a outros efeitos da macroeconomia, afetam indiretamente o valor do automóvel para o consumidor — diz Neto.
Mas o impacto do câmbio não deve ser tão imediato nas lojas. Presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos (Sincodiv/RS), Jefferson Furstenau diz que pode levar alguns meses até que o custo do dólar chegue nos carros que já foram produzidos. Neste intervalo, o espaço é para os modelos que já estão no pátio das fábricas.
— Vamos ter carros que estão estocados disputando mercado com os novos. Isso deve permanecer até março ou abril, quando teremos outra realidade do mercado do dólar na indústria — diz Furstenau.
Nos veículos importados, o efeito é menor. Neste caso, os carros chegam prontos e são comprados em estoque pelas concessionárias, a um preço de dólar fechado no momento da negociação. Neste mercado, portanto, o impacto cambial é ainda menos imediato, sendo incorporado a longo prazo nos preços finais dos autos.
Inevitavelmente, deve haver um aumento esse ano. Mesmo que o dólar recue, o preço dos carros não vai cair. A tendência é de um aumento acima da inflação nos veículos.
MILAD KALUME NETO
Consultor automotivo
Atenção na hora da compra
Para quem ainda assim pretende comprar ou trocar de carro, o consultor dá duas dicas importantes. A primeira é avaliar as opções de seminovos. O mercado está aquecido no país e em 2024 bateu recorde. O especialista projeta crescimento de 6% no segmento este ano, com 16 milhões de veículos comercializados.
Se a preferência for mesmo pelo carro zero quilômetro, a dica é pesquisar.
— Se quiser ficar no zero, pesquise. Mas pesquise sem preguiça, porque precisa procurar — indica o consultor.
Para 2025, o Sincodiv/RS projeta crescimento na ordem de 5% no mercado automotivo geral. O desempenho depende do dólar e dos juros, que podem emperrar os negócios, mas conta com o embalo da maior empregabilidade, que aumenta o consumo.
Se o dólar seguir subindo e o preço do carro novo também, pode ser o primeiro ano de venda de motos igual ou superior ao de veículos, porque se torna alternativa.
JEFFERSON FURSTENAU
Presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos (Sincodiv/RS)