O Rio Grande do Sul mais contratou do que demitiu no emprego formal pelo segundo ano consecutivo. O Estado encerrou 2022 com abertura de 100,8 mil vagas com carteira assinada no acumulado de janeiro a dezembro. Esse montante é a diferença entre admissões e desligamentos no período.
Os dados são do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego nesta terça-feira (31). Mesmo no azul, o saldo de 2022 mostra recuo de 28,4% ante 2021, ano marcado pela consolidação da retomada em alguns setores após o momento mais crítico da pandemia. Em 2020, o Estado fechou 42,5 mil vagas no primeiro ano de crise sanitária.
Em dezembro, único mês com resultado no vermelho, o Estado fechou 27,8 mil postos com carteira. O saldo negativo no último mês do ano é sazonal, mas a queda ocorre em patamar mais elevado na comparação com o mesmo mês de 2021, quando foram fechados 19,4 mil postos.
A coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Lodonha Maria Portela Coimbra Soares, afirma que a desaceleração da geração de emprego ante 2021 ocorre diante de uma série de fatores. Acomodação após retomada mais intensa, escalada da taxa básica de juros, inflação alta e incertezas características de um ano eleitoral estão entre esses pontos, segundo a especialista:
— Tudo isso influenciou, principalmente no último trimestre, quando a gente observou essa queda na atividade e na geração de emprego.
A economista e professora da Universidade Feevale Lisiane Fonseca da Silva afirma que, além da atividade econômica mais fraca, os números expressivos no registro de microempreendedor individual (MEI) desde o início da pandemia também ajudam a explicar a desaceleração na abertura de vagas. Como muitos trabalhadores seguiram nesse modelo, algumas empresas optaram por contratar os serviços desses pequenos negócios individuais:
— Como a legislação trabalhista flexibilizou algumas dessas contratações, acredito que essas vagas também não alavancaram em função disso.
Para estimar o ambiente do mercado de trabalho nos próximos meses, a economista afirma que é preciso mais clareza em relação a fatores internos, como políticas de incentivo à produção, e externos, como futuro da guerra na Ucrânia e efeito no custo da energia.
No âmbito dos setores, serviços liderou com o maior saldo entre contratações e demissões, com abertura de 50.270 vagas no acumulado de 2022. Indústria aparece logo na sequência, com 22.279 postos. A construção foi o único setor com variação positiva no saldo entre um ano e outro. Já a agropecuária (3.599) apresentou o resultado mais tímido entre os cinco segmentos pesquisados.
A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, destaca que o setor de serviços apresentou desaceleração menor em relação a 2021 na comparação com alguns dos outros setores:
— Ainda que o setor de serviços também tenha desacelerado na geração de empregos em 2022, houve recuperação do que foi perdido na pandemia. Já a indústria e comércio vivenciaram outro processo, o que segue a dinâmica exclusivamente de crescimento conjuntural.
Os dados do Caged são sempre revisados em cada mês de divulgação, o que pode gerar números diferentes nos meses seguintes. O Novo Caged apresenta dados a partir de 2020. Antes desse ano, o Caged utilizava metodologia diferente para divulgar dados do emprego formal, por isso, não é indicada a comparação dos dados atuais com a série histórica anterior, segundo especialistas.
No Brasil
O país fechou 2022 com saldo positivo de 2 milhões de vagas com carteira – queda de 26,6% ante 2021. Em dezembro do ano passado, o Brasil registrou saldo negativo de 431.011 empregos formais O saldo do mês passado foi resultado de 1.382.923 milhões de contratações e 1.813.934 desligamentos.
No país, o resultado positivo no acumulado do ano foi impulsionado, principalmente, por serviços, comércio e indústria.