Juros ainda elevados e inflação mais alta devem seguir moldando o ambiente macropolítico do Brasil em 2023. A projeção é da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul), que apresentou nesta quinta-feira (15) o seu balanço e projeções para o próximo ano. Na avaliação da entidade, o país ainda conviverá com cenário interno de bastante dificuldade no ano que vem.
Os números foram apresentados pelo coordenador da Divisão de Economia da Federasul, Fernando Marchet. Conforme as projeções, a economia brasileira terá crescimento curto de 0,74% em 2023, dado este "ainda otimista”, do ponto de vista do economista.
As razões para a estimativa fraca vêm do ambiente que se cria antes mesmo da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. A entidade mostrou preocupação em relação ao cenário político e econômico que se desenha. Para a Federasul, o clima deve influenciar negativamente os indicadores de confiança do empresário e do consumidor a partir do próximo ano, arrastando a economia.
O economista da entidade também criticou o possível aumento de despesas ao longo da próxima gestão federal, sinalizado pelo furo no teto de gastos. Marchet disse temer por um aumento de impostos para fechar o "rombo que será gerado".
— Vamos viver um cenário de muita incerteza. Tudo indica que vamos vivenciar um novo governo Dilma, e não um primeiro governo Lula — disse o economista, criticando nomes já anunciados para o comando da área econômica em 2023.
Além do juro estável em patamares elevados ao longo do ano e da inflação em alta, a Federasul projeta volatilidade no dólar, podendo a moeda bater os R$ 5,60 em 2023.
A boa notícia dentro do contexto apresentado vem do Rio Grande do Sul. Com a continuidade do governo de Eduardo Leite, a entidade espera que o Estado dê seguimento à agenda de reformas, ao ajuste nas contas públicas e maior espaço para investimentos e melhoria do ambiente de negócios.
A projeção é de que a economia gaúcha cresça 4,88% em 2023, depois de recuo de 0,78% este ano por conta do impacto da estiagem no agronegócio e da menor movimentação no setor de serviços.
A expectativa também vem da melhora no campo, com esperada regularização da safra no próximo verão, mas ainda com efeito pequeno nos serviços devido à menor circulação da renda.
— São agendas que podem melhorar a nossa competitividade relativa. Apesar do cenário nacional, as questões micro causam um impacto local muito diferente — avaliou Marchet.
Despedida
Dando início à coletiva que apresentou os dados, o presidente da Federasul, Anderson Trautman Cardoso, aproveitou para se despedir da gestão. Rodrigo Sousa Costa, novo nome que comandará a entidade, toma posse nesta sexta-feira (16).
Em tom de despedida, Cardoso disse que o seu mandato foi marcado pela parceria ao longo dos últimos dois anos, apesar dos desafios impostos pela pandemia. E destacou as iniciativas encabeçadas pela Federasul no ambiente empresarial, todas calçadas na inovação.
— Quando assumi, estabelecemos a inovação como elemento norteador da gestão. Passados esses dois anos, temos a confirmação de que é tema central para diversos setores e, inclusive, governos. Ficamos felizes de ter contribuído com essa agenda, como a atração do South Summit para Porto Alegre, por exemplo, e contribuindo para que a inovação se capilarizasse no RS — disse Cardoso, destacando que o Estado ainda tem potencial a explorar nessa área.