Nos últimos anos, não tem sido difícil encontrar no topo de casas, estabelecimentos comerciais e indústrias no Estado cada vez mais placas viradas para o céu, voltadas para captar a energia solar.
De pequenos painéis a longas fileiras se espalhando pelos tetos, essa alternativa energética tem crescido recentemente: entre 2019 e 2020, a capacidade de geração de energia elétrica limpa e renovável por meio do sol saltou de 4,6 gigawatts (GW) para 7,5 GW no país. Um crescimento de 63%, mesmo em meio a um ano desafiador, marcado pela pandemia.
A previsão é de que a tendência continue, e esse número alcance 12,6 GW neste ano. O cálculo da capacidade de geração inclui as usinas de grande porte (geração centralizada) e os pequenos e médios sistemas instalados em telhados, fachadas e terrenos (geração distribuída). Esse dado representa mais da metade da potência instalada na usina hidrelétrica de Itaipu, a maior do Brasil e segunda maior do planeta.
O Rio Grande do Sul é o terceiro Estado com a maior potência instalada em todo o Brasil, somando 12,4% da capacidade nacional — atrás apenas de Minas Gerais, que tem 18,5% do total, e de São Paulo, com 12,5%. Mas mesmo com o crescimento constante, a energia solar ainda está longe de ser uma das mais populares entre os brasileiros: apenas 1,4% da oferta de energia elétrica foi gerada pela fonte solar no ano passado.
Apesar do investimento inicial alto, a energia solar é vista como a principal fonte a encabeçar a retomada verde no país e a transição para uma economia 100% limpa e renovável, seguida da eólica, hidrelétrica e do gás natural.
— Há poucos anos, ouvíamos falar da energia solar como algo futurístico, quase inalcançável pelos brasileiros. Mas principalmente nesses últimos cinco anos, tivemos uma forte popularização dessa fonte renovável, e hoje ela faz parte da realidade de muitos lares, comércios e indústrias, tanto na cidade quanto no campo — explica Adriana Peixoto, engenheira e sócia-fundadora da Renowatt Energias Renováveis.
Adriana viu reflexos claros no Estado do crescimento da energia solar no Brasil, mesmo em meio à pandemia. Após um primeiros semestre difícil, o número de instalações cresceu consideravelmente. Para ela, o aumento de gastos com energia elétrica em razão do teletrabalho ajuda a explicar a maior procura por essa alternativa:
— No início da pandemia, até houve um curto período de incerteza no mercado. Sentíamos a insegurança de nossos clientes em investir na tecnologia. Mas tínhamos convicção de que era uma fase passageira. Em nosso último balaço em 2020, confirmamos um aumento de 17% nas vendas e no número de instalações solares em Porto Alegre, Região Metropolitana e Litoral Norte, comparando com o ano anterior, que já tinha sido excepcional para nós — descreve Adriana.
Investimento e empregos
Com R$ 13 bilhões em investimentos, a geração de energia solar dobrou sua capacidade instalada no país em 2020, e a expectativa é de que o crescimento continue neste ano. O valor bilionário repercutiu na criação de mais de 86 mil novos postos de trabalho. Desde 2012, os investimentos acumulados são de R$ 38 bilhões.
Por trás desses números está, principalmente, a redução de preços de equipamentos nos últimos anos, que tem atraído mais empresas e consumidores para esse mercado, aliada ao fato de o Brasil ter uma das melhores irradiações solares do mundo. E, ao contrário do que muitos podem pensar, quem mais procura a instalação de energia solar no Rio Grande do Sul não são grandes indústrias, mas pequenos e médios comércios e residências.
— Hoje o setor comercial e residencial são os de maior procura. Isso porque acabam tendo um retorno do investimento mais rápido do que a indústria, que é atendida em média tensão com demanda contratada — descreve Fernando Knecht, engenheiro eletricista e sócio da Proinst Energia Solar.
Síndico de condomínio residencial que instalou 128 painéis solares em Porto Alegre no ano passado, Fábio Orso conta que a conta de luz, que ficava em torno de R$ 7 mil, caiu para R$ 400. A expectativa é de que o investimento de R$ 275 mil se pague em cerca de quatro anos.
— Além do sistema fotovoltaico, também instalamos um sistema de aquecimento da piscina externa com placas solares. Então, desde novembro, temos dois sistemas diferentes que usam a energia solar no condomínio. E estamos muito contentes com o resultado — descreve Orso.
Já em uma casa na zona norte da Capital, a economia também surpreendeu o proprietário, Marcelo Ventura: a conta de luz, agora, vem com a cobrança da taxa mínima, o equivalente a cerca de R$ 50 por mês. Na habitação de 200 metros quadrados, foram instaladas 24 placas de captação de energia solar no telhado — quantidade que faz o local produzir mais de 715 Kw/h. Os resultados, para Ventura, compensam:
— No ano, nossa economia vai ser de cerca de R$ 6 mil. E pensamos no meio ambiente também. Calculamos que a instalação aqui vai evitar a queima de quase 3 mil toneladas de CO2 em um ano.
Quanto custa
Valor médio dos sistemas residenciais mais vendidos (com instalação), segundo a Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar)
- Casa pequena (2 pessoas) = R$ 15.818,78
- Casa média (3 a 4 pessoas) = R$ 16.760,55
- Casa média (4 pessoas) = R$ 22.372,49
- Casa grande (4 a 5 pessoas) = R$ 27.747,49
- Casa grande (5 pessoas) = R$ 35.868,27
- Mansões (mais de 5 pessoas) = R$ 49.979,35
É caro, mas compensa?
A energia solar teve seu preço reduzido em 80% no Brasil desde 2012, quando despontou comercialmente por aqui. Nesse período, passou de US$ 100 o megawatt-hora para cerca de US$ 20. O preço fica abaixo do custo de todas as outras fontes, com exceção da geração eólica.
Diretora comercial de uma empresa focada em energias renováveis, Camila Nascimento explica que equipamentos que há 10 anos custavam R$ 30 mil são encontrados, hoje, pela metade do preço.
— Por R$ 15 mil, uma residência que tenha a conta de luz de R$ 350 por mês consegue instalar um sistema. Para negócios como um salão de beleza, que consome muita energia, o investimento na compra e instalação dos módulos pode sair R$ 45 mil — explica Camila.
Para entusiastas, a energia solar fotovoltaica reduz o custo de energia elétrica da população, aumenta a competitividade das empresas e desafoga o orçamento do poder público, beneficiando pequenos, médios e grandes consumidores do país. E o setor solar fotovoltaico trabalha para acelerar a expansão renovável da matriz elétrica brasileira a preços competitivos. Isso porque, conforme especialistas do setor, essa fonte renovável pode ajudar o país a crescer com cada vez mais competitividade e sustentabilidade.
— A energia solar fotovoltaica reduz o custo de energia elétrica da população, aumenta a competitividade das empresas e desafoga o orçamento do poder público, beneficiando pequenos, médios e grandes consumidores do país — afirma o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Ronaldo Koloszuk.
Os consumidores residenciais e o setor de comércio e serviços representam 76% do total dos empreendimentos de geração distribuída solar fotovoltaica, informa a Absolar. Na sequência, vêm os consumidores rurais (13,2%), indústrias (8,9%), poder público (1,2%) e outros tipos, como serviços públicos (0,1%) e iluminação pública (0,02%).
De acordo com Rodolfo Meyer, presidente do Portal Solar, maior plataforma sobre o tema no país, a energia solar terá função cada vez mais estratégica para o atingimento das metas de desenvolvimento social, econômico e ambiental do Brasil. Não apenas por contribuir para uma retomada sustentável da economia, por ser a fonte renovável que mais gera emprego e renda no mundo, mas também por estar, apesar de o investimento inicial continuar alto, cada vez mais acessível ao consumidor.
— O aproveitamento da energia solar deixou de ter só um apelo ambiental, como era anos atrás, e passa por uma questão financeira. As pessoas instalam realmente para reduzir a conta de luz — avalia Meyer.