Mais de quatro décadas após sua extinção no mercado brasileiro, a marca FNM, conhecida como Fenemê, vai batizar uma linha de caminhões elétricos que começará a ser produzida em novembro em Caxias do Sul. Por trás do projeto, estão os empresários José Antonio e Alberto Martins, filhos de José Antonio Fernandes Martins, que atuou como executivo da Marcopolo por 53 anos e é um dos acionistas da fabricante de carrocerias.
A produção dos caminhões será feita nas instalações da Agrale, que também fabrica caminhões e ônibus e onde a FNM terá uma área exclusiva. Boa parte dos componentes, como bateria, motor e sistema digital será importada dos Estados Unidos.
A Agrale produzirá os veículos e a montagem final será feita pela Fábrica Nacional de Mobilidades, novo nome para as inciais FNM, antes Fábrica Nacional de Motores.
A FNM foi criada em 1942 em Duque de Caxias, Rio de Janeiro, para produzir motores aeronáuticos. Sete anos depois, foi a primeira a produzir caminhões no Brasil, atividade mantida até 1977, quando foi vendida à Fiat. Dois anos depois, a montadora italiana aposentou a FNM e passou a usar sua própria marca até 1985, quando saiu do negócio de pesados. As instalações da fábrica fluminense hoje pertencem à Marcopolo.
Segundo os responsáveis pelo projeto desenvolvido nos últimos quatro anos, o foco serão caminhões para transporte em centros urbanos, os chamados VUCs, com capacidade de carga de 13 e de 17 toneladas.
A fábrica da FNM trará um novo impulso de modernidade para o Rio Grande do Sul.
JOSÉ ANTONIO MARTINS
Empresário
O motor elétrico terá até 130 quilômetros de autonomia. O valor do investimento ainda não foi revelado. Futuramente, o grupo também pretende produzir ônibus elétricos.
Além dos irmãos Martins, a nova FNM tem entre seus sócios investidores nacionais e estrangeiros e uma grande empresa que já encomendou 7 mil caminhões, dos quais 4 mil serão utilizados em entregas no Brasil e 3 mil no México. O nome ainda é mantido em sigilo por questões contratuais.
Hugo Zattera, presidente da Agrale, diz que a empresa está focada na modernidade da logística e do transporte limpo e já desenvolveu caminhões e ônibus movidos a gás metano.
— Agora, com essa parceria com a FNM, vamos produzir caminhões e ônibus elétricos com tecnologias internacionais de ponta.
O executivo acredita que em breve o projeto deverá atrair para a região fabricantes locais de componentes, o que reduzirá os custos de produção.
— A fábrica da FNM trará um novo impulso de modernidade para o Rio Grande do Sul — afirma José Antonio Martins.
Tecnologias
De acordo com Martins, os caminhões vão manter o "aspecto vintage" da versão fabricada nos anos 1960, mas terão tecnologia de ponta, com tablet ligado com a TI operacional e sistemas de logística dos frotistas, incluindo monitoramento, soluções de videotelemática de câmeras anticolisão com inteligência artificial.
— Será um smart-truck, com sistema de mudança de pista, alerta de partida de veículos à frente, alerta de motorista fumando e distraído, avanço de sinal de trânsito vermelho, aviso de distância mínima dos veículos no trânsito — entre outros itens.
Marco Aurelio Rozo, diretor de Tecnologia de Informação da empresa, informa que "o FNM estará pronto para se tornar um caminhão autônomo no futuro".
O grupo vai trabalhar apenas com encomendas e não terá concessionárias. A venda será direta para operadores logísticos por meio de demanda pré-contratada, com pagamento antecipado. A assistência técnica será prestada pela fabricante que irá até o cliente.
Outra montadora do Brasil, a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) também promete iniciar no fim do ano a produção de caminhões elétricos de pequeno porte (o e-Delivery) na fábrica de Resende, também no Rio.
A empresa informa que terá um grupo de empresas parceiras que vão operar dentro do complexo industrial na produção de componentes, mesmo sistema adotado na fabricação de caminhões e ônibus a combustão, chamado de consórcio modular.