
Um idoso de 61 anos foi resgatado em uma lavoura de fumo em situação análoga ao trabalho escravo em Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo. Auditores fiscais do trabalho chegaram ao local após uma denúncia anônima feita ao Ministério Público do Trabalho (MPT).
De acordo com o relato do trabalhador aos agentes, ele residia no local há cerca de 10 anos. Nesse período, viveu sem o fornecimento de água potável para consumo, preparo de refeições e higiene básica.
— Ele vivia numa condição miserável. O quarto onde dormia ficava no mesmo galpão utilizado para o armazenamento do tabaco, com grande quantidade de terra, poeira e acúmulo de sujeira — comentou a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Santa Cruz do Sul, Thais Fidelis Alves Bruch.
No relatório preliminar da fiscalização, os dois agentes que estiveram no local destacaram que as roupas do trabalhador não eram limpas, além disso eram usadas até se tornarem imprestáveis e então eram descartadas.
— Se estabeleceu a cultura das chamadas parceria agrícolas, onde, geralmente, só o proprietário da terra acaba ganhando. No entanto, essa relação acaba se configurando como vínculo empregatício — avaliou o auditor fiscal do trabalho, Rafael Andrade Vieira.
Aos ser questionado sobre a alimentação, o trabalhador disse que era fornecida proprietário da lavoura, mas que era pouca. O homem também relatou que consumia bebidas alcoólicas, especificamente, cachaça.
— Ele não tinha nenhum meio para promover sua higiene. Para tomar banho, contava com ajuda de vizinhos da propriedade ou em um açude próximo — concluiu o fiscal.
A fiscalização na propriedade rural aconteceu no último dia 15. A equipe de fiscalização procurou o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Venâncio Aires. No entanto, a instituição informou que somente acolhia idosos a partir de 65 anos.
Por isso, os auditores acionaram o Ministério Público do Trabalho e a Promotoria de Justiça de Venâncio Aires e optou-se pela manutenção do trabalhador na propriedade até que um novo local para moradia pudesse ser proporcionado a ele. Assim, no dia 25, ele foi retirado da propriedade e encaminhado a uma clínica de idosos no município vizinho de Cruzeiro do Sul.
Nesta segunda-feira (29), o proprietário do local pagou cerca de R$ 10 mil em verbas rescisórias ao idoso. Na próxima semana, ele deve ter uma audiência no MPT de Santa Cruz do Sul sobre o caso.
Procurado, o proprietário da fazenda não retornou as ligações da reportagem de GaúchaZH.