Dimensão do iRS que tem como variáveis renda, ocupação e desigualdade, o padrão de vida dos gaúchos caiu em 2015 após seis anos consecutivos de alta. O Estado – e todas as demais unidades da federação – foi tragado pela crise na economia nacional, reflexo de desajustes que vinham se avolumando, como inflação crescente e contas públicas desequilibradas, potencializados pela contaminação da turbulência política. Foi o ano em que o Brasil imergiu oficialmente na recessão e o desemprego começou a crescer. Esse mergulho foi o principal responsável pelo segundo recuo consecutivo do indicador geral.
Diante do impacto generalizado da paralisia, o Estado manteve a quinta colocação no ranking em padrão de vida, posição sustentada desde 2011. Uma observação acurada mostra que o desempenho gaúcho não foi tão ruim quanto a média nacional. No Rio Grande do Sul, o índice de padrão de vida calculado no iRS caiu 4,6%. No país, retração de 5,8%. À frente da equipe que formula o indicador, o coordenador do curso de Economia da Escola de Negócios da PUCRS, Ely José de Mattos, observa que o resultado do país foi influenciado de forma negativa pelo desempenho dos Estados do Norte e Nordeste.
A queda da atividade gaúcha em ritmo inferior à nacional também foi detectada pelos órgãos oficiais. Segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEE), o PIB gaúcho caiu 3,4% em 2015. O tombo nacional foi maior, de 3,8%. A diferença a favor do Estado foi o peso maior da agropecuária. O economista da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da Capital, Victor Sant'Ana, lembra que, em 2015, além da renda ter caído, o poder de compra também foi comprometido pela inflação alta. Ao final do ano, o IPCA fechou em 10,67%
– O ano de 2015 foi realmente muito difícil para os brasileiros. Tivemos queda abrupta nas contratações, o que gerou alta na taxa de desemprego no país. Ainda não conseguimos reverter o ciclo de aumento do desemprego, mas estamos trilhando um caminho melhor hoje. Foi um período de agravamento da crise, queda de confiança, descontrole da inflação, baixa generalizada no PIB , com exceção da agropecuária gaúcha, e crise política – enumera Sant'Ana.
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Um ponto que parece ser positivo para o Rio Grande do Sul – mas precisa ser relativizado – foi a menor desigualdade, ao contrário da média nacional, puxada pelas maiores economias, como São Paulo, Rio e Minas Gerais. A diferença entre os mais abastados e os mais pobres, aliás, diminui desde 2009, superada a crise financeira global da época. Mas, desta vez, não pelos fatores ideais.
– A desigualdade de renda no mercado formal apresentou discreta diminuição no Estado, enquanto o Brasil teve ligeira elevação. Isso está associado ao mercado de trabalho e as remunerações em ambiente de crise. É mais um efeito, ainda que leve, do empobrecimento generalizado do que equilíbrio salutar nas remunerações – explica Mattos.
O emprego também foi afetado. Como o tombo do Rio foi maior, os gaúchos ganharam uma posição no ranking da ocupação, subindo para o sexto lugar. Em 2015, conforme o Caged, foram fechados 1,5 milhão de postos formais de trabalho no Brasil. No Estado, 95 mil. Na renda, a queda observada no Rio Grande do Sul e na média nacional foi igual. Na dimensão padrão de vida, a liderança segue com o Distrito Federal, posição mantida desde 2007.