Com o resultado de março caindo menos do que o esperado, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), do Banco Central (BC), encerrou o primeiro trimestre com alta de 1,12% em relação ao período de outubro a dezembro de 2016. Assim, reforça a expectativa de que, aos poucos, o país começa a sair da recessão.
Para economistas, o indicador solidifica a certeza de que o Produto Interno Bruto (PIB) de janeiro a março, a ser divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1º de junho, vai mostrar que a atividade voltou ao azul, após oito trimestres seguidos de retração. Na comparação com igual período de 2016, o IBC-Br subiu 0,29%. Os dados têm ajuste sazonal.
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O indicador do BC é considerado prévia do PIB, mas conta com metodologia diversa da adotada pelo IBGE. A despeito do trimestre considerado melhor do que o esperado, o IBC-Br teve queda de 0,44% em março sobre o mês anterior, após subir 1,37% em fevereiro e 0,37% em janeiro, de acordo com dados revisados.
O avanço recente da economia, porém, não significa que o país vai acelerar o crescimento, alertam especialistas. O professor de Economia Marcelo Portugal, da UFRGS, observa que o desempenho do primeiro trimestre, apesar da melhora da indústria, foi fortemente influenciado pela safra excepcional no país e pela mudança da metodologia do IBGE na pesquisa dos setores de serviços e comércio, o que impulsionou o resultado desse segmento.
– O IBC-Br mostra vigor, mas isso não se refletirá no PIB, nem se repetirá no resto do ano – alerta Portugal.
Para o economista, é possível o PIB encerrar 2017 com avanço de 0,8% a 1%, o que também ocorreria pelo incentivo do corte de juro. A expectativa dos analistas do mercado financeiro no Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, é de que a economia cresça 0,50%, mas, aos poucos, as projeções devem ser ajustadas para cima, prevê Portugal.
A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, também aconselha um pé atrás com os números, embora avalie que há o que celebrar:
– O dado é positivo, estamos melhores do que no ano passado, mas a situação ainda é errática.
O IBC-Br leva em consideração o desempenho da indústria, dos serviços (com o comércio incluído) e da agropecuária. O PIB é mais amplo. Além do lado da oferta, no qual entram os três grandes segmentos, avalia a demanda, que analisa variáveis como consumo das famílias e do governo, comércio exterior e investimento.
Avanço menor nos próximos períodos
Apesar de o dado do IBC-Br do primeiro trimestre ser considerado positivo, a tendência não é de avanço no mesmo ritmo nos próximos períodos, ponderam os economistas. Informações divulgadas a partir de março também reforçam a cautela.
– Vamos sair da recessão, mas não tão rápido quanto o IBC-Br pode sugerir. Não necessariamente teremos um número de PIB igual ao do IBC-Br. É preciso colocar as barbas de molho – alerta Marcelo Portugal, da UFRGS.
A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, concorda que o ritmo da atividade no Brasil ainda não embalou. O mercado de trabalho está fraco e tende a ser um freio.
– No segundo trimestre ou no segundo semestre, podemos ver meses de queda no IBC-Br. Uma das variáveis-chave é o desemprego, que ainda vai continuar alto – alerta Marcela.
O quadro, aliado à inflação em desaceleração, faz crescer as apostas de que, na próxima reunião, no final do mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) pode decidir por corte de até 1,25 ponto percentual no juro básico.
A equipe de pesquisa econômica do Itaú, por exemplo, que projetava recuo de um ponto percentual, admitiu ontem que agora espera postura mais agressiva do colegiado e vê a Selic a 7,5% ao final do ano – antes, calculava em 8,25%. Portugal se soma ao grupo que aposta na possibilidade de o BC ser mais ousado, o que poderia ajudar a dar novo ânimo na economia nos próximos meses.
O Itaú prefere a cautela. O maior banco do país observa que, "após três meses relativamente bons, dezembro, janeiro e fevereiro, e um crescimento do PIB possivelmente robusto no 1T17 (primeiro trimestre de 2017), a expansão da atividade parece ter desacelerado para um ritmo mais suave desde março".
Criação de empregos abaixo do esperado e o desempenho fraco da indústria automobilística e de papelão reforçaram a visão de que o PIB do segundo trimestre será mais fraco em comparação com o primeiro, em parte por não haver o empurrão da agricultura, que concentra a safra no início do ano.