Divulgada nesta quinta-feira, a compra da AES Sul coloca a paulista CPFL como detentora de cerca de dois terços do mercado de distribuição de energia elétrica no Estado. O grupo que arrematou a concessionária do conglomerado americano AES por quase R$ 1,7 bilhão controla também a RGE e, depois de aprovada a aquisição, passará a atender 2,8 milhões de consumidores no Rio Grande do Sul.
A confirmação do negócio ainda precisa de aprovação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e de outros interessados _ entre os quais, credores da AES Sul e acionistas da CPFL _, o que deve ocorrer até o fim do ano. Depois do aval, o grupo paulista planeja mudar, em 120 dias, o nome da concessionária e sua comunicação com os clientes.Os consumidores do centro-oeste gaúcho, atendidos pela AES Sul, não devem sentir efeitos imediatos devido à troca de comando. Por enquanto, a CPFL projeta aumento ao redor de 50% nos investimentos e afirma que não é preciso temer alta na tarifa.
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– Tenho falado sempre que um país do nosso tamanho ter 63 concessões, que são micro, médias, e pouquíssimas grandes, torna mais difícil oferecer serviço de grande qualidade. Esse movimento da CPFL vai ao encontro dessa necessidade do setor de distribuição de adquirir escala, comprar equipamentos, instalar sistemas e compartilhar boas práticas. Não há dúvida de que o movimento vai nessa direção – disse o presidente da CPFL, Wilson Ferreira Jr.
Hoje, o investimento na área de concessão da AES Sul é de cerca de R$ 250 milhões por ano, e a CPFL quer ampliá-lo para ao redor de R$ 400 milhões. No dia em que anunciou a compra bilionária, Ferreira Jr. ainda sinalizou interesse em ampliar a atuação no Estado por meio de uma futura compra da distribuidora da CEEE. Caso o negócio avance, o Rio Grande do Sul voltaria a ter distribuição de energia unificada em uma só empresa.
O secretário de Minas e Energia do Estado, Lucas Redecker, negou intenção de privatizar a distribuição da CEEE. Ele garante que a companhia, mergulhada em uma crise que a leva ao risco de perda da concessão, tem trabalhado para se tornar financeiramente viável.
– Não vejo essa possibilidade neste momento – garantiu.
O negócio firmado nesta quinta-feira prevê o pagamento de R$ 1,403 bilhão na data de fechamento da compra e de R$ 295,455 milhões relativos ao aumento de capital realizado pela AES Guaíba na AES Sul em fevereiro. O valor ainda será ajustado pelas variações de capital de giro e de dívida líquida.
O presidente da AES Brasil, Julian Nebreda, declarou, em nota, que a "transação não afeta demais ativos da AES no país" e que a empresa prossegue com a "estratégia de melhorar a qualidade dos serviços". Para especialistas, a compra pode assinalar tendência verificada entre empresas distribuidoras no país.
– O setor de distribuição tem tido uma posição de fazer a fusão de empresas para reduzir custos operacionais e ter fôlego para fazer investimentos de uma forma mais uniforme – avalia o presidente da Thymos Energia, João Carlos Mello.
No cenário de recessão econômica enfrentado pelo país, que torna os ativos mais baratos, a compra da AES Sul pode confirmar o início de uma fase de destravamento de grandes negócios de fusões e aquisições. Trata-se do segundo negócio bilionário fechado em cinco dias: no domingo, o grupo Ultrapar anunciou que a subsidiária Ipiranga assinou a compra da distribuidora de combustíveis Ale por R$ 2,17 bilhões.