A recessão que tem assombrado a economia faz pelo menos dois anos atingiu pela primeira vez, com força, o mercado de trabalho. Em 2015, 1,5 milhão de postos de trabalho foram fechados no Brasil, pior resultado desde o início da série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em 2002. A quantidade de postos eliminados é praticamente a mesma do número de vagas criadas ao longo nos dois anos anteriores - 2013 e 2014.
No Rio Grande do Sul, aproximadamente 95 mil postos desapareceram. A queda no número de vagas deveu-se principalmente às demissões nos setores da indústria (menos 53,2 mil postos), construção civil (-14,9 mil) e comércio (-13,7 mil postos).
O ministro do Trabalho, Miguel Rossetto, admitiu que o dado de 2015 foi pior do que o esperado pelo governo, mas disse que o fechamento recorde de vagas não foi suficiente para reverter as conquistas obtidas no passado recente. Ao anunciar o resultado, ressaltou que o país manteve, em 2015, estoque formal de 39,6 milhões de empregos, o terceiro melhor da série do Caged. Na avaliação do ministério, isso decorre da "forte geração" de vagas desde 2002".
Em dezembro, houve redução real de 1,64% no valor do salário médio de admissão, em relação ao mesmo mês em 2014.
A projeção de especialistas é que em 2016, tanto no país quanto no Estado, o desemprego se espraie também pelo comércio e pelo setor de serviços. Segundo estimativa da RC Consultores, esses segmentos podem demitir 2 milhões de empregados no país ao longo deste ano. A estimativa se baseia em um corte percentual de vagas nesses segmentos na mesma magnitude ao registrado na indústria de transformação, até agora o setor mais afetado pelo fechamento de vagas.
- O processo de demissões no comércio e nos serviços começou tarde e pode durar muito tempo. O potencial de estrago na economia é muito grande - descreve o analista Everton Carneiro.
Anselmo Santos, professor do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que a deterioração do mercado de trabalho deve se acentuar ao longo de 2016 e que todos os segmentos continuarão a ser afetados:
- Desemprego é o sintoma mais doloroso de uma recessão e o último a ser tratado. Primeiro, a atividade econômica vai ter de dar sinais de recuperação, e o empresariado, retomar o mínimo de confiança para, depois, pensar em estabilização do mercado de trabalho. Esse é um processo lento.
Com indústria em crise, RS perde 95 mil postos de trabalho em 2015
A expectativa do professor de Economia Giácomo Balbinotto Neto, da UFRGS, é de que, no Estado, ocorra fenômeno semelhante, com aumento acelerado no número de desempregados no ano.
- Acontecerá o que chamamos de "trabalhador adicional". O pai de família perde o emprego e, por necessidade, a mulher, que antes ficava em casa, ou o filho que apenas se dedicava aos estudos, passam a procurar emprego para ajudar na renda. Na prática, passam ser não um, mas três desempregados - explica.
Em 2015, o fechamento de postos formais afetou 3% dos trabalhadores que tinham carteira assinada em 2014 no Estado, chegando com mais intensidade a cidades onde a indústria tem relevância para a atividade econômica. É o caso de Caxias do Sul, que fechou 14,2% dos empregos no setor em um período de 12 meses. Das 14 mil postos de trabalho perdidos no município, 11 mil foram em fábricas. A grande maioria das cidades gaúchas com mais de 30 mil habitantes registrou saldo negativo no ano.
A conclusão de obras, como a ampliação da Celulose Riograndense, maior investimento privado da história do Estado, também afetou a construção civil. Em Guaíba, cidade sede da empresa, a quantidade de empregos formais encolheu 15,8% após o término da ampliação da fábrica.
*Colaboraram Caio Cigana e Débora Debon