Setor que viveu período de euforia e sofreu com a falta de mão de obra na época do crédito farto, a construção civil vive agora um momento de reversão de expectativas com a economia em recessão e a confiança do consumidor em baixa. Os reflexos no emprego, que já começaram a ser sentidos em 2014, quando o segmento eliminou 866 postos de trabalho no Rio Grande do Sul, ficaram ainda mais evidentes ano passado, com a perda de 14,9 mil vagas de trabalho - número que quase anula os saldos positivos acumulados em 2012 e 2013 (15,5 mil postos). Mesmo que parte das demissões de 2015 tenham relação com o fim da obra da Celulose Riograndense, em Guaíba, neste ano as incertezas continuam.
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O auxiliar de pedreiro Luiz Alberto da Silva, 60 anos, foi nesta quinta-feira à tarde ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Porto Alegre (Sticc) para tratar da homologação da demissão de uma pequena empreiteira que avisou aos funcionários, logo após entregar uma obra, que fecharia as portas.
- Não vai ser fácil arrumar emprego. Agora apertou o sapato - diz Silva, ainda lembrando que, há poucos anos, era grande a oferta de trabalho.
O pedreiro Jorge Luiz Cruz Garcia, 44 anos, tinha sentimento semelhante.
- Vejo todo mundo reclamando que está cada vez pior. Vai ser bastante difícil - lamenta Garcia, que trabalhava na mesma obra.
O pintor William Nascimento, 29 anos, ficou sete meses na última empresa em que esteve contratado. Mesmo com os recorrentes atrasos de salário, permaneceu no trabalho, com receio de ficar desempregado. Há um mês, pediu demissão, mas agora admite que a recolocação está difícil.
- Não encontro nada. Dizem que não tem vaga. Falam para deixar o currículo, que qualquer coisa ligam, mas até agora ninguém ligou - queixa-se Nascimento.
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Há quase um ano, Getúlio Alberto Pires da Silva, 56 anos, perdeu o emprego e foi incluído no grupo cada vez maior de desempregados em Caxias do Sul - a cidade da Serra registrou o segundo maior fechamento de vagas em 2015 no Estado, com 14,1 mil postos perdidos, e é líder quando são analisados somente os dados da indústria. Ele trabalhava em uma grande metalúrgica desde 2008, e foi demitido em março de 2015. Pouco antes, Silva havia comprado um automóvel e assumido uma dívida que hoje lhe tira a tranquilidade.
Com a demissão, precisou se organizar para pagar as contas com a aposentadoria de pouco mais de R$ 900, incluindo a prestação do veículo e as mensalidades da faculdade da filha de 18 anos, que hoje estão atrasadas, conta Silva. A mulher, que está em licença do trabalho devido a uma doença, utiliza o auxílio recebido do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para a alimentação da família.
Silva diz que não encontrou oportunidades de emprego desde que foi demitido. Na empresa, ele trabalhava no turno da noite como instalador de eixo e componentes.
- Não consegui nada. É muito difícil de achar - afirma.
A situação se repete com amigos do industriário, que também ficaram desempregados.
- É preocupante, tenho conhecidos que também foram demitidos e eles têm filhos. É difícil - conta.
Neste ano, Silva espera conseguir ao menos uma oportunidade temporária ou uma vaga na área da indústria metalúrgica.
- Enquanto isso, a gente vai indo, devagarinho - lamenta.