No tenso day after dos protestos de domingo, com o pedido explícito de renúncia feito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma dupla identificada com tucanos e petistas deu um exemplo ao Brasil - uma conversa de alto nível sobre interesses nacionais. Gesner Oliveira, sócio da consultoria GO Associados que ocupou cargos em governos do PSDB, chamou André Singer, que foi porta-voz da Presidência durante o governo Lula, para avaliar o cenário em teleconferência com clientes e imprensa.
O mais surpreendente, no decorrer da conversa, foi a avaliação de Gesner de que não há base de apoio para impeachment no Congresso e ponderação de Singer de que, na Câmara, "não está muito claro o balanço de forças em relação a um possível pedido de impedimento". Mais identificado com Lula do que com Dilma, Singer voltou a explicitar sua discordância com o ajuste fiscal aplicado no atual governo, mas ponderou, sobre as críticas à corrupção que brotaram nas ruas no domingo:
- O combate à corrupção está sendo feito, da maneira mais radical a que o Brasil já assistiu. É uma demanda que está sendo plenamente atingida. Não há outras demandas positivas claras, a não ser que a presidente saia.
Singer foi informado durante a teleconferência da nota em que FHC pede a renúncia, que caracterizou de "complicada":
- Como a presidente tem reiterado que não vai renunciar e o país não está em situação de desgoverno, não entendo essa posição a respeito da renúncia, como se o país precisasse mudança para um programa alternativo que não está claro. Governo fraco também governa.
Singer apontou "fatores de indeterminação" do cenário, como a Operação Lava-Jato, "um elemento inédito na história do país", que considerou similar à operação Mãos Limpas na Itália, e a situação econômica, que avaliou como "pouco previsível". Gesner, embora tenha avaliado que não há condições objetivas para impeachment nesse momento, deixou uma reticência:
- A questão é em que condições o governo vai operar nos próximos três anos e meio.
E o Financial Times, que já usou até apelidos deselegantes para se referir a Dilma, avaliou que não há motivo para impeachment. E mais, que se ocorresse, ela seria substituída por "outro político medíocre".