Professor do Instituto Nacional de Contabilidade de Xangai (Snai), o economista Song Hang tem conhecimento e experiência para falar sobre a turbulência vivida pelo mercado de ações chinês. PhD em auditoria e investidor há pelo menos 10 anos, ele e outros amigos perderam bastante dinheiro na bolsa de Xangai de julho para cá. Ele confirma a existência de bolha no país, mas se mostra confiante na recuperação rápida e afirma: com a queda no preço dos papéis, pode ser uma boa hora para investir na China. Veja os principais trechos.
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Existe uma bolha no mercado chinês de ações?
Havia. Quando o índice de mercado atinge 5 mil pontos, há bolha. Agora, porém, está em torno de 3 mil, muito menor que antes. Estamos em processo de retorno, de uma bolha voltamos ao valor de mercado razoável.
Esta bolha vai estourar?
Já está se encaminhando para estourar. O salto do índice da bolsa de 2 mil para 5 mil em seis meses indica uma bolha. O mercado de ações disparou apesar de a economia chinesa não demonstrar bons sinais. O retorno do índice para 3 mil pontos demonstra isso.
Quem são os mais afetados?
Aqueles que ainda estão no mercado de ações e não querem sair, todas as indústrias e também o governo.
Os indicadores econômicos oficiais são confiáveis na China?
Podemos acreditar, mas com certa cautela. Embora o desempenho da economia chinesa não seja tão forte quanto antes, o quadro ainda é promissor. O crescimento do PIB gira em torno de 7% ao ano, e o preço para produtores e consumidores é muito baixo na China. Não temos inflação agora. Acredito que o mercado de ações vai se recuperar em breve. Tenho confiança na nossa economia.
Quais as consequências para o economia chinesa no curto prazo?
O mercado de ações na China não afeta tanto a economia real como se imagina. Não são tão integrados assim. Por isso, acredito que não haverá consequências tão ruins em curto prazo. Em 2007, o mercado chinês despencou de 6 mil pontos para 1,8 mil. Pior do que agora e não houve grande efeito para a economia interna. Acredito que desta vez não vai afetar tanto a economia também.
Em julho, o governo chinês proibiu por seis meses grandes acionistas de vender papéis. Como a população vê essa medida?
Esse não é um método usual de mercado. A maioria dos principais acionistas de grande empresas são controladas pelo governo. Os grandes acionistas já mantinham comportamento estável antes da ação do governo (não havia compra ou venda de grande volume de ações entre acionistas). Então, não afeta tanto a indústria. Foi uma medida para incentivar as pessoas a manter a confiança no mercado. Mas não teve muito efeito.
Qual o papel do shadow banking (empréstimos feitos fora do sistema bancário tradicional) na economia chinesa?
Isso ocorre por causa do financiamento de inovação na China, o que é conveniente à nossa vida. Traz menos controle do Estado sobre o mercado, apesar de o governo chinês ter adotado métodos para tentar monitorar. Por isso, acredito que não trará problemas para a economia tradicional chinesa.
Quais serão os impactos ambientais e econômico se o governo aprovar o fim da política do filho único?
É um bom ponto de discussão. Por um lado, pode reduzir o envelhecimento da população e a pressão do aumento dos custos trabalhistas. Mas eleva o custo dos produtos para bebê.
Qual o impacto da mudança de modelo de desenvolvimento chinês para a economia internacional e para países emergentes, como o Brasil, que tem na China o maior parceiro comercial?
A China está em processo de mudança, focando em um modelo de desenvolvimento mais baseado em alta tecnologia. Estamos preocupados com proteção ambiental. O crescimento do PIB da China baseado no consumo interno já não é tão forte como antes. Reduzir a procura de matérias-primas vai impactar as exportações de muitos países. Ao reduzir as importações, a China vai gerar menos receita e menos dinheiro para economia global.
Quais os principais mecanismos hoje para estimular a economia?
Há basicamente duas maneiras: o mercado e o governo. Usamos o poder de mercado para ajustar, mas quando o mercado faz alguma coisa errada, utilizamos o poder do governo para corrigir a rota, seja com política cambial ou financeira.