Depois de dois dias parada, a fábrica da General Motors (GM) em Gravataí retomou a produção na tarde desta quinta-feira. O retorno às atividades não é suficiente para afastar de vez o fantasma do desemprego que ronda o pátio cheio de veículos da montadora.
Os carros enfileirados em linhas a perder de vista são o retrato de uma crise que atinge o setor em São Paulo há meses, mas que também já cercava o Estado. No país, de janeiro a abril, as fabricantes de veículos reduziram o número de funcionários em 4,6 mil pessoas. Em um ano, são 14,6 mil postos de trabalho a menos.
O ritmo fraco das vendas e o nível de estoque alto obrigaram a unidade gaúcha da GM a locar espaço nos autódromos Velopark (Nova Santa Rita) e Tarumã (Viamão) para guardar os carros e a sugerir ao sindicato a extinção do terceiro turno de trabalho. A proposta gerou reuniões dos funcionários com a empresa e com a prefeitura.
A montadora não demitiu trabalhadores no Estado, mas em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, deve colocar mais 900 funcionários em layoff na próxima semana, uma alternativa para evitar demissões na unidade, que já tem 1,3 mil funcionários afastados. Nessa modalidade, o contrato de trabalho é suspenso temporariamente, mas o empregado continua recebendo o salário, pago em parte pela empresa e em parte pelo governo federal.
Gravataí tenta evitar 3 mil demissões na GM e nas empresas sistemistas
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Os funcionários que entrarem no sistema a partir da próxima segunda-feira deverão permanecer afastados por cinco meses, com garantia de estabilidade por mais seis meses. No país, a estratégia já foi adotada nos últimos 30 dias por Pirelli (1,5 mil funcionários), Ford (250) e Volkswagen (230). A Fiat anunciou que vai dar férias coletivas para 2 mil empregados.
As gigantes do setor estão longe de serem as mais afetadas pela queda no consumo. Diversas empresas de menor porte no Estado que fornecem peças e componentes para montadoras do país e do Exterior já começaram a demitir.
Rolamentos, partes do motor e do eixo traseiro antes enviados para montadoras de carros, ônibus e caminhões no interior de São Paulo ficam em estoque, com o principal mercado do país enfraquecido. Entre abril de 2014 e abril de 2015, o número de empregados em empresas do segmento no Rio Grande do Sul caiu 13%.
No Exterior, o cliente mais relevante, tanto para acessórios quanto para veículos, é a Argentina, que compra nove de cada 10 carros exportados - e também enfrenta crise.
- O setor automotivo representa 10% da indústria de transformação. É a ponta de uma corrente de fornecedores. Além da metalmecânica, afeta a indústria química, de borracha, de plástico e eletroeletrônica, dando uma dimensão maior para o problema - afirma Rodrigo Morem da Costa, economista responsável pela análise do setor na Fundação de Economia e Estatística (FEE).
Marcas de luxo instalam fábricas e abrem lojas
Enquanto a maioria das montadoras coloca o pé no freio para tentar reduzir os impactos da desaceleração econômica, algumas empresas seguem no sentido oposto. No fim de abril, com a presença da presidente Dilma Rousseff, a Jeep inaugurou uma fábrica em Pernambuco, investimento de R$ 4 bilhões. Outras 16 empresas que fornecem peças estão instaladas no complexo automotivo.
Em outubro do ano passado, a BMW inaugurou sua primeira fábrica no Brasil, em Araquari, no norte catarinense. Na ocasião, o presidente da empresa, Arturo Piñeiro, ressaltou que 2015 seria um ano difícil, mas que a companhia estava preparada "para crescer".
No Rio Grande do Sul, não houve instalação de montadoras, mas concessionárias de marcas de luxo abriram portas. A Eurobike, líder nacional em vendas de veículos premium - representa marcas como Audi, BMW, Jaguar, Land Rover, Mini, Porsche e Volvo - inaugurou uma loja em Caxias do Sul na semana passada.
Em março, já havia aberto duas concessionárias no Paraná - em Londrina e Maringá. O objetivo, segundo o presidente da Eurobike, Henning Dornbusch, é consolidar ainda mais a posição da Audi na região.
Estão previstos para o próximo ano as inaugurações das fábricas da Mercedes-Benz, em Iracemápolis (SP), e da Jaguar Land Rover, em Itatiaia (RJ).