Se todos os projetos avançarem, o conjunto dos acertos assinados ontem por Brasil e China alcançará US$ 53 bilhões. Para dar uma ideia do que a soma representa, equivale a cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Frutos de longas negociações, algumas envolvendo empresas privadas, os 35 acordos embutem muito financiamento chinês ao Brasil, mas também a venda de produtos e serviços da China.
Com as projeções de encolhimento do PIB neste ano na faixa de 1,2%, segundo a média das instituições financeiras, é uma senhora ajuda. Quando o pacote começou a ser desembrulhado, críticos avaliaram que "não resolve os problemas do Brasil". Isso é óbvio. Não só não resolve todos como cria novos.
A China está longe de ser modelo de democracia, tem comportamento reprovável em espionagem industrial. Isso para não falar em relações de trabalho, que vem melhorando mas ainda inspira arrepios.
Com presença forte em vários países latino-americanos, como Peru, Chile e até na Argentina, os chineses andavam em ritmo lento e prudente no Brasil. É possível que, na moldura sacramentada ontem no Planalto, ganhem velocidade. Os acertos destravam programas que vão da carne bovina à produção de satélites, incluem compra de controle de bancos e venda de jatos da Embraer.
E o mais importante: apontam o gigante asiático como parceiro preferencial para o programa de concessões que o governo se prepara para apresentar no próximo mês. Para os chineses, o Brasil virou negócio da China. Assim como tem de garantir capacidade de investimento, o Planalto tem obrigação de cuidar para que seja recíproco.