Voando para frente, o Rio Grande do Sul vai voltar no tempo. Neste caso, o voltar no tempo refere-se à época em que o Estado era coberto por linhas aéreas regulares da Varig e Rio-Sul. Modelos DC-3, C-46 e Avro e, depois, os turboélices Bandeirante e Brasília cruzavam os céus para ligar cidades gaúchas na velocidade do avião. Eram bem mais destinos do que os hoje atendidos por Azul, Avianca e Gol.
Há três meses no cargo, o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, relança um projeto de R$ 310 milhões para fazer aeroportos do interior gaúcho decolarem. A proposta já ganhou muito destaque em dezembro de 2012, quando foi anunciada pela presidente Dilma Rousseff. Até agora, nada. A ideia é muito boa: quer incentivar companhias aéreas a ampliarem rotas internas no país, não apenas as rentáveis ligações entre capitais e polos econômicos.
Como qualquer projeto, é preciso combinar com o outro lado. Oferecer infraestrutura adequada - pistas, controle de navegação e bombeiros - é o primeiro passo para atrair as empresas, mas elas aguardam a aprovação de subsídios no custo de passagens para o interior com a finalidade de tornar a operação rentável.
Dito assim, parece que as companhias tentam reverter a lógica do capitalismo de risco pelo capitalismo de mão beijada - aliás, tão comum no país. O subsídio, se concedido, virá para tentar livrar o bolso do passageiro do custo Brasil, essa praga que inclui impostos elevados e torna qualquer produto nacional, por mais barato que seja na sua produção, algo muito caro depois de entrar em cena a mão pesada do governo. Vamos aos cálculos: conforme empresas do setor de aviação, o custo do combustível pode ser até 200% maior em cidades do interior do país se comparado com o preço no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O bilhete aéreo fica entre 20% e 30% mais caro, inviabilizando uma rota e ainda fazendo o passageiro se perguntar por que tem de pagar mais para voar a mesma distância entre Porto Alegre e Florianópolis, por exemplo.
O ministro Padilha, discorda dessa diferença, diz que não é tanto assim, mas entende que a proposta para incentivar voos regionais é importante, por isso prevê para este primeiro semestre o decreto presidencial para a aviação regional. A conferir se não virá um vento de proa, afinal, a ordem do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é fechar todas as torneiras. O ponto a favor do incentivo à aviação é que, onde há voos, o desenvolvimento vem junto no avião, na forma de passageiro ou de cargas. Já que os dois lados - empresas e governo - estão se entendendo, em breve os quero-queros do céu gaúcho devem ganhar companhia de novos ATR, Embraer, Airbus e Boeing.