O cenário da substituição da diretoria da Petrobras já estava complicado: 48 horas de prazo para escolher a equipe responsável por resgatar a imagem da estatal de águas profundas, cargos que trazem embutidos riscos judiciais e esgarçamento da base de apoio político do Planalto. Aí veio a nona fase da Operação Lava-Jato para tornar a montagem desse quebra-cabeças ainda mais complexa. Parecia desafiar a frase profética que fechou o discurso de posse da presidente Dilma Rousseff: "O impossível se faz já, só os milagres ficam para depois".
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Enquanto o tesoureiro do PT, João Vaccari, depunha em São Paulo, auxiliares de Dilma Rousseff trabalhavam, em outro ponto da capital paulista. Além do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, auxiliou no trabalho de buscar candidatos a seis vagas no comando da maior estatal brasileira - presidência e cinco diretorias. Sugestões vieram de políticos da base aliada do governo, de antigos e de novos conselheiros da presidente.
Assim como no dia anterior havia subido a cotação do presidente da Vale, Murilo Ferreira, para substituir Graça Foster, nesta quinta-feira foi o dia de Luciano Coutinho subir na bolsa de apostas. Encarado como solução emergencial, o atual presidente do BNDES se encaixa no perfil esculpido pelo comando da crise: reputação intocada e reconhecida capacidade de gestão. Entender de petróleo, neste momento, seria desejável, mas não indispensável. Jean-Paul Prates, economista especializado em regulação, petróleo e energia, explica que é da natureza das petrolíferas ter ciclos em que é necessário um perfil "petroleiro" e outros em que a característica requerida é a de "financista". Na Petrobras, diz ser "ululantemente óbvio" que é hora do gestor de caixa.
A tendência é de que as diretorias técnicas sejam ocupadas por pessoal "da casa" - segundos ou terceiros dos atuais ocupantes dos cargos. Como têm atuação muito técnica, só familiarizar-se com o tema levaria tempo - que a estatal não tem. Isso vale mais para as áreas de abastecimento - neste momento ocupada pelo gaúcho José Carlos Cosenza - e a de exploração e produção. Nas de gás e energia e financeira, existe possibilidade de indicações de fora da estatal. Não está descartada a hipótese de que diretorias sejam extintas ou fundidas, nem de que alguma fique sem ocupante em um primeiro momento.
Entre os nomes que circularam nesta quinta-feira em São Paulo estão alguns dos ocupantes de cargos imediatamente abaixo das diretorias, como Carlos Ressurreição - cujo nome é um emblema - e Mario Carminatti, para exploração e produção, e ao menos um gaúcho, Claudio Romeo Schlosser, para abastecimento.
Um observador do processo admite que a perspectiva de substituir os diretores preocupa ex-subordinados. Mas nomes estão sendo avaliados com um foco: recuperar a credibilidade diante dos investidores.
- O mercado financeiro é o grande algoz, mas é a única saída. A Petrobras não quebra porque tem ativos reconhecidos pelo mercado. O essencial agora é ter um perfil bem aceito perante o mercado financeiro. A questão de responder à Justiça virá no devido tempo - disse à coluna um candidato a uma das cadeiras na futura diretoria.