Em março de 1999, um raio que caiu em Bauru (SP) levou a culpa por deixar cerca de 30 milhões de brasileiros sem luz por mais de seis horas. Uma década depois, em novembro de 2009, foi outra "descarga atmosférica", desta vez em Itaberá (SP), que teria deixado 18 Estados no escuro por duas horas. Seis anos depois, na segunda-feira, um desligamento seletivo afetou 11 Estados 20 minutos depois que o consumo no Brasil quebrou um novo recorde.
Na falta de tempestades que sustentassem a tese de raios, um banco de capacitores foi eleito pelo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, como bode expiatório da vez. O banco de capacitores pode até ter falhado, mas porque o consumo encostou na capacidade de abastecimento. Onze entre 10 especialistas em energia convergem para esse diagnóstico.
E o mesmo ministro que tentou atribuir o apagão a um problema técnico anunciou, poucas horas depois, que a Petrobras vai incorporar ao sistema 867 MW de geração térmica de usinas que estavam em manutenção ou reparo. E para já, até 18 de fevereiro. Ou seja, se o problema é o banco de capacitores, a solução é injetar mais energia no sistema. Lógica complexa.
Depois do racionamento de 2001/2002, apelidado de apagão, houve mudança de governo, de modelo de gestão e de planejamento no setor elétrico. Não serviu de para-raios para crises de abastecimento. Diga-se em favor do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que só aparece quando há alguma crise, que a solução foi relativamente rápida. Não o suficiente para evitar o desconforto e a ansiedade de quem ficou preso em elevadores ou dentro do metrô, teve prejuízo por não fechar negócios ou perdeu parte da mercadoria que exigia refrigeração constante.
Não é, necessariamente, a antessala de mais um período obrigatório de redução do consumo, como ocorreu há 14 anos, mas o governo federal não tem o direito de, para evitar o carimbo de mau planejador, evitar o tema do racionamento como São Paulo fez com a água. Não tem volume morto no sistema elétrico.