Toda vez que visito a Índia vou à Nasscom, a associação de alta tecnologia, para conhecer a mais nova safra de inovadores. Eles representam apenas uma pequena fração da população de 1,2 bilhão de pessoas no país, a maioria dos quais continua dolorosamente pobre, mas foco nesses inovadores porque muitos deles se concentram em solucionar problemas da pobreza.
Ferramentas de tecnologia na nuvem e plataformas de código aberto vêm permitindo que esses inovadores indianos façam isso com pouco capital. Como resultado, estão muito mais dispostos a tentar, fracassar e tentar de novo (a receita secreta do Vale do Silício). E, com isso, estamos começando a ver uma fusão entre TE, TI e ID.
Não há nada de que a Índia precise mais do que uma revolução na tecnologia de energia (ou TE, para abreviar) para fornecer energia barata e confiável a milhões de pessoas. Se cada aldeia tivesse energia confiável, mais acesso à internet em alta velocidade - uma base para a tecnologia da informação, ou TI -, milhões de indianos seriam capazes de viver localmente mas agir globalmente. Ou seja, eles conseguiriam permanecer em suas aldeias, e mesmo assim ter acesso à educação e aos mercados - o que lhes permitiria fugir da pobreza sem precisarem se juntar às hordas nas grandes favelas das megacidades, como Mumbai ou Calcutá.
A inovação da tecnologia de energia mais emocionante que vi aqui foi a Gram Power. Cerca de
400 milhões de pessoas na Índia não têm acesso à rede elétrica e, portanto, dependem do querosene, que libera grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera e ceifa 1,5 milhão de vidas indianas por ano. A Gram Power desenvolveu uma resposta, segundo seu cofundador Yashraj Khaitan:
- O sistema Smart Microgrid compreende uma infraestrutura de geração renovável instalada localmente na aldeia (geralmente painéis solares numa torre de celular) e um sistema proprietário de distribuição inteligente que ataca os três maiores desafios do acesso à energia confiável na Índia: roubos e furtos, altos custos de capital para estender a rede a áreas remotas com pouca população e um fornecimento de energia intermitente e imprevisível.
O sistema da Gram Power traz um custo, acrescentou Khaitan, menor do que o de um sistema solar residencial, com um modelo pré-pago adequado à renda disponível dos consumidores: por apenas US$ 0,20 por dia de recarga, os consumidores podem operar luzes, ventiladores, rádios e televisões. Os medidores inteligentes evitam que as pessoas puxem energia demais e priorizem diferentes cargas com base nas condições locais. Com o sucesso de seu piloto, a Gram Power está trabalhando para envolver 20 mil residências e ter cem torres de telecomunicações cobertas com painéis solares para geração no próximo ano.
Moradores ganham identidade online
O projeto de tecnologia da informação mais interessante que conheci foi da Mettl, que desenvolveu uma plataforma online de avaliação para ajudar a contratar gestores para medir e monitorar habilidades de candidatos e funcionários, determinando se eles podem realmente realizar um trabalho específico. A Mettl mensura habilidades que são diretamente aplicáveis a um emprego, em vez de apenas o conhecimento que você adquiriu por hábito, explicou Ketan Kapoor, cofundador da empresa:
- Até agora, não se podia mensurar o que você pode fazer com o que sabe. A menos que você possa aplicar seu conhecimento a um nível que seja útil, ele não significa nada. O conhecimento é uma mercadoria disponível a qualquer um e deixou de ser um diferencial no mercado. O diferencial é o que você consegue fazer com esse conhecimento.
A Mettl também está desenvolvendo um programa de aprendizado à distância na internet, para que um jovem numa remota aldeia indiana possa ser confiavelmente testado por seu conhecimento - e o professor receba um feedback imediato.
- Estamos certos de que conseguiremos solucionar o problema dos testes remotos e abalar o espaço do aprendizado e da avaliação online - diz Kapoor.
Agora case nessas revoluções em TE e TI com uma em ID, ou identificação. Nandan Nilekani, cofundador da Infosys, vem comandando o projeto Unique Identification na Índia, que pretende fornecer a cada indiano (pelo menos os que desejarem) um número de identificação exclusivo de 12 dígitos, apoiado por fotografias, digitais e leituras de íris que podem ser facilmente verificadas online.
O sistema está criando uma plataforma que habilita o governo a oferecer ajuda, salários, assistência médica e aposentadorias muito mais diretamente aos cidadãos, sem temer que as benfeitorias sejam desviadas por funcionários públicos corruptos ou identidades falsas.
Cerca de 270 milhões de indianos já fizeram uma identidade, com 1 milhão se inscrevendo a cada dia. Assim que cada indiano tiver uma "robusta identidade real" com base na nuvem, definiu Nilekani, eles terão uma plataforma onde poderão criar todo tipo de serviços - de transferências monetárias e registros médicos a cursos online abertos.
Em suma, quando TE se encontra com ID, surge um círculo virtuoso que pode potencialmente competir com o ciclo da pobreza de energia, escolas fracas e corrupção. Embora o sucesso em escala não esteja nada assegurado para essas startups, elas são uma amostra do que é possível quando tantas pessoas no mundo podem se tornar inventores, criadores e solucionadores de problemas. Quem acha que a era da inovação já terminou não está prestando muita atenção.
Quem é o autor
Thomas L. Friedman é colunista do jornal The New York Times e autor do livro O Mundo é Plano, best-seller em diversos países no qual faz uma análise da globalização, seus êxitos e pontos fracos. Segundo Friedman - ganhador três vezes do prêmio Pulitzer, o mais importante dos EUA nas áreas de jornalismo, literatura e música -, há um "achatamento" do mundo, criando novos ambientes para negócios e conectando os indivíduos. A obra já passou por atualizações, ganhando capítulos sobre como adaptar currículos escolares ao mundo plano e sobre o fortalecimento de culturas regionais por meio do achatamento do mundo.