Depois de ser classificada como "piada" pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em junho, a projeção de 1,5% para o crescimento da economia brasileira neste ano se tornou quase um milagre.
Diante do fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, de apenas 0,6% em relação ao período anterior, analistas preveem que a expansão da atividade econômica no país não chegará a 1%.
O resultado pior do que o previsto provocou um onda de revisões de projeções entre analistas e operadores do mercado.
- O PIB decepcionou mais do que imaginávamos. Tínhamos uma projeção de 1,7% para o ano, mas agora revisamos para baixo, em 0,9% - aponta o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, acrescentando que a taxa de investimentos privados é o grande nó a ser desatado para o país voltar a crescer.
Embora a indústria tenha apresentado uma leva recuperação no período, o investimento privado manteve a quinta variação negativa consecutiva no terceiro trimestre, com queda de 2%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
- A indústria sofre um problema crônico de falta de investimento, e não apenas por ausência de incentivos do governo, mas também por falta de disposição dos empresários. O índice de rentabilidade das indústrias ainda é alta, mas boa parte desse dinheiro vai para o bolso dos acionistas - avalia Agostini.
Além da taxa de investimentos, os destaques negativos foram o setor de serviços e o comércio internacional. Pelo lado positivo, houve recuperação da indústria de transformação e um bom desempenho da agropecuária. Em valores, o PIB somou R$ 1,098 trilhão no período de julho a setembro.
Diante da atual conjuntura, o professor Emerson Marçal, da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), também aposta que a economia brasileira irá fechar o ano com um PIB abaixo de 1% - bem distante das projeções do governo, que chegaram a estimar 3%. Em junho, o Credit Suisse projetou crescimento de 1,5% e Mantega disse que era "piada" e que seria muito mais do que isso.
- Crescemos nos últimos anos porque tínhamos uma capacidade ociosa no consumo e emprego. Agora, batemos no teto, e a única saída é aumentar a capacidade produtiva do setor público e privado, uma agenda de longo prazo que envolve obras, infraestrutura e outros canais de financiamento - aponta Marçal.
O padrão de crescimento baseado exclusivamente no consumo das famílias, modelo adotado nos últimos 10 anos, precisa ser revisto na opinião do economista Rogério César de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
- Já temos demonstrações de que o governo vai tentar fazer investimentos em infraestrutura e concessões deslanchar. Está cada vez mais claro que essa é a direção a seguir.
Para 2013, embora o cenário seja incerto, já há revisão para baixo, e alguns analistas creem que a previsão média migrará de 4% para 3% a 3,5%. O PIB decepcionante reabriu a discussão também de um novo ciclo de queda de juros a partir de março do próximo ano.
- Tudo vai depender de como o governo irá se mover na questão do investimento a partir de agora - completa Souza.