Mais de 11 anos depois da assinatura do primeiro contrato de parceria, a Ceitec SA - estatal que inaugura o ingresso do país no seleto grupo de fabricantes de semicondutores - vai começar em outubro a testar de forma comercial os primeiros chips made in Brazil. O componente está presente em todo o tipo de aparelho eletrônico, como celulares, TVs e computadores.
Os chips, entretanto, já surgem com defasagem tecnológica - admitida pelo próprio governo - e colocam o projeto da primeira fábrica de chips da América Latina no centro de uma discussão: afinal, os R$ 450 milhões investidos pela União no projeto trarão algum benefício real ao país?
Os problemas que cercam o funcionamento da empresa, estatizada em 2008, são três:
1. A capacidade instalada da fábrica, incapaz de reverter a dependência externa do país.
2. A tecnologia utilizada no projeto, que ameaça a competitividade da Ceitec.
3. E o tempo excessivamente longo para desenvolvimento da unidade, que sofreu com a falta de uma política clara do governo federal em relação ao tema.
Projetada para processar cerca de mil wafers (semelhante a um disco de CD, onde são impressos os semicondutores) por mês, a fábrica poderá produzir perto de 120 milhões de chips ao ano quando estiver funcionando com sua capacidade máxima - e se tiver demanda. Mas, por enquanto, nenhum contrato comercial foi anunciado pela companhia, o que não melhora a situação desfavorável do país em relação ao mercado externo.
Só no ano passado, a importação de componentes eletrônicos que usam semicondutores integrados, como smart cards e cartões de memória, chegou a US$ 10 bilhões. Sozinha, a compra de chips - dos mais simples aos mais sofisticados - gerou um déficit de US$ 4,5 bilhões para a balança comercial brasileira. Ou seja, o país é totalmente vulnerável nesse campo. A entrada em operação da Ceitec não vai resolver o problema, mas pode ser positiva para setores específicos da economia que, hoje, contribuem para o quadro de dependência.
- Mesmo com tecnologia desatualizada, construir e operar a empresa é uma prova de competência e de mudança de paradigma. Mas é correto afirmar que a planta da Ceitec não está especificada para a fabricação de microprocessadores ou de memórias - reconhece o coordenador-geral de microeletrônica do Ministério da Ciência e Tecnologia, Henrique de Oliveira Miguel.
Leia a íntegra da reportagem na edição de domingo de Zero Hora
Notícia
Mais de 11 anos após a sua criação, Ceitec fabricará chips que podem surgir já defasados
Possibilidade de defasagem desperta discussão sobre os R$ 450 milhões investidos pela União
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