A “piada” que a participante Gizelly fez com a única mulher negra do Big Brother Brasil 20, Thelma, já é bem conhecida pela maioria das negras brasileiras. Ao ver o lençol da sister com manchas de maquiagem, a advogada riu e perguntou se a médica passa "barro" no rosto:
—Gente, eu não sei o que a Thelminha passa na cara, é barro? — disse Gizelly, rindo.
— É minha base, gente, eu uso marrom — falou Thelma.
Veja a cena:
Em seguida, Gizelly se corrigiu e disse que a comparação não foi pela cor e, sim, pela quantidade. Bom, nós sabemos o que é. E como disse, não é novidade:
Toda mulher que gosta de maquiagem tem um certo medo de sair marcando roupas por aí com base. Imagine, então, a mulher negra?
Nós fomos descobertas há pouquíssimo tempo pelo mundo da beleza: ou seja, ainda é bem difícil encontrar aquela base com zero transferência. Por termos a pele escura, é óbvio que a marca vai ser escura também - ou seja, sempre perceptível.
Falo por experiência própria: não é legal lidar com o medo de sujar as roupas dos outros e as minhas. Já não basta isso, ainda tenho que ouvir alguém chamando a base escura que usamos de barro? Há comentários tão ultrapassados que dá pena de ouvir, sinceramente. Quando falo de racismo, me refiro a comentários como esse, que as pessoas nem disfarçam - e que causam desconforto e recuo da pessoa negra.
Espero que (mais esse) caso de racismo dentro da casa no BBB seja o último e que os autores dessas falas se referindo à base da mulher negra, ao pente garfo do homem negro e às religiões de origens africanas sejam bem instruídos e possam evoluir.
Duda Buchmann é blogueira que gosta de falar do mundo feminino, principalmente da mulher negra, e de inspirações que elevem a autoestima delas. Escreve semanalmente em revistadonna.com.