Camila Maccari, especial
Seja sincera: quantas peças estão paradas no seu armário há meses, sem que você as tenha usado uma vez sequer? E quantos utensílios de cozinha jamais deixaram a prateleira? E quais objetos estão apenas pegando pó na estante?
Se o clima de recomeço do novo ano convida a dar uma reorganizada na casa, você pode aproveitar a deixa e ir além. Aproveite a faxina geral para dar destino ao que não usa mais e comprometer-se com uma vida mais leve e sustentável. E se precisar de um empurrãozinho extra, basta conferir o programa Menos É Demais, que estreia nova temporada no Discovery Home and Health nesta terça-feira, 8 de janeiro.
Toda segunda, às 20h30min, a consultora de sustentabilidade na indústria da moda Chiara Gadaleta mostra que é possível repensar nossa relação com o consumo. Se nas últimas gerações o bem-estar estava diretamente ligado ao “ter” e ninguém falava ou pensava na maneira com que os produtos eram consumidos e no propósito de consumir, hoje o cenário é outro.
– O debate ficou mais complexo porque chegamos a um grau de informação muito grande, estamos falando muito sobre consumo, a maneira com que os objetos são feitos, o descarte correto, a responsabilidade. Nós chegamos a um limite. Exageramos, a produção em massa aumentou e a virada do milênio veio acompanhada de um “fast tudo”, tudo é rápido, feito para ser consumido com rapidez e descartável – diz Chiara.
Ela traz exemplos que vão muito além de um closet cheio de roupas: ao longo do programa, já conheceu gente que nunca cozinha mas tinha seis pegadores de massa guardados ou quem estocava mais itens de maquiagem do que qualquer profissional da área. São objetos que custam dinheiro, ocupam espaço, acumulam energia e, em excesso, deixam os ambientes feios. Esse é, inclusive, um dos alertas para perceber se você tem coisa demais pela sua casa.
– Quando todo o espaço parece pequeno, as gavetas estão abarrotadas e as prateleiras cheias de objetos empilhados, algo está errado – alerta Chiara. – Aquela sensação de bagunça que fica mesmo depois de você arrumar a casa é um indicativo de que tem coisa demais por aí. Talvez a sala ficaria melhor sem tantas cadeiras, por exemplo. E o armário precisa mesmo estar abarrotado de porcelanas?
Não que a limpeza só seja efetiva caso você se livre de quase tudo e viva apenas com o mínimo do mínimo. Mas é legal pensar que objetos parados superlotando a sua casa podem ser muito úteis para outras pessoas. A ideia é tentar entender por que você investe em certas coisas, o que leva em conta na hora de comprar e a que propósito esses objetos servem.
Para Chiara, o prazer de comprar algo de melhor qualidade, que dura mais e combina mesmo com você é diferente – e mais genuíno – do que aquele impulso automático de comprar só mais uma coisinha que, talvez, não será usada. E tudo faz parte de um processo: pode começar com a limpeza de início de ano.
– Estamos descobrindo juntos, enquanto sociedade, como funciona o consumo consciente e sustentável – diz Chiara. – Eu mesma só compro de brechó ou de marcas sustentáveis e trabalho diretamente com o consumo consciente há mais de 10 anos. Mas agora mesmo, antes de sair de férias, quando desacelerei, olhei para a minha casa e vi que tinha coisa a mais ali. Por isso digo: é um processo. Que inclui comprar menos, comprar melhor e fazer a energia circular: liberar o espaço, tanto físico, quanto mental:
– Não temos noção do quanto a bagunça e o excesso de coisa ocupa a nossa mente. Fazer essa limpeza e voltar a ter espaço deixa a vida mais leve. Sem contar que, em cidades grandes e nas rotinas corridas, espaço é, cada vez mais, um luxo.
Veja dicas de Chiara Gadaleta para adotar o menos é mais em sua casa:
Olhe com uma lupa
Chiara rejeita a ideia de que só pessoas acumuladoras vão encontrar coisas em excesso nos armários e nas gavetas. Para ela, cada um sabe qual é seu ponto fraco na hora de compras:
– Tenha um foco, seja roupas, revistas ou apetrechos de cozinha. Outra dica é perceber a quantidade de sacolas que você tem guardada.
Tenha paciência
Organizar tudo provavelmente vai ser trabalhoso. Comece a limpeza consciente de que precisará ter perseverança para não desanimar.
– Tem que ter um tempinho, abrir gavetas, mexer em cabides, abrir armários, olhar roupas que ficaram intocadas, coisas que não estão mais deixando-a feliz. Mas também é um processo que mostra que a reorganização é possível. Dá trabalho, mas ajuda a aprender a entender sua forma de consumir.
Separe os objetos em três categorias
No programa Menos É Demais, Chiara oferece três caixas para que os participantes separem os itens. A verde é destinada aos objetos que serão mantidos, como a calça jeans usada dia sim, dia não; na amarela, os itens que geram dúvida, como a mesinha lateral que parece estar abarrotando a sala. E, por fim, a vermelha, para tudo o que pode sair, desde roupas para doação até aquele liquidificador queimado.
Claro que você não precisa de caixas coloridas para começar a limpeza: basta encontrar uma forma que funcione para você. A ideia de colocar em caixas é refletir e driblar aquele primeiro pensamento de que você vai precisar de tudo o que estava ali parado e sem uso durante meses.
Pense no destino das peças que saem
O que não tem mais sentido para você pode ser muito útil para outra pessoa. Vale ter em mente locais que podem aproveitar roupas, móveis e outros utensílios, como ONGs, instituições de caridade e cooperativas de artesãs que, a partir do upcycling, reutilizam materiais de forma criativa, fazendo objetos com o que seria descartado. Jeans rasgados e guarda-chuvas quebrados, por exemplo, podem virar bolsas e mochilas que voltam ao mercado com um impacto muito menor do que produtos novos.
Busque o equilíbrio
Chiara alerta que manter os espaços organizados e livres permanentemente é possível – mas exige constância. Se você já estiver na onda de comprar menos, pode ser mais fácil.
– A cada 15 dias, dê uma olhada no que está a sua volta. Se estamos desatentos, acumular é um processo rápido.
Encontre novos usos
A limpeza consiste também em pensar no destino de objetos que podem ser reaproveitados. Muita coisa parada precisa apenas de um novo uso: sabe aquela mesa lateral sobrando na sala? Talvez possa quebrar o galho como mesa de cabeceira. Você reutiliza e economiza.
– “Re” é o prefixo de ordem: reutilizar, reformar, reorganizar, reaproveitar – brinca Chiara.
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