A pior coisa de engordar nem é engordar; é ter que lidar com toda uma sociedade que se acha no direito de opinar acerca do seu corpo e de fazer perguntas invasivas. Ocorre o seguinte: uma amiga minha engordou. Segue linda, apenas alguns números maior. Sabe o que ela me contou? Que não se sente mal consigo, mas evita sair de casa e ir a determinados lugares que algumas pessoas que ela conhece frequentam porque sente os olhares de “GORDA!” e sabe que vai ser ela sair do ambiente para que comecem a comentar. Pior, uma dessas pessoas chegou a chamar ela no cantinho e perguntar: “Mas o que aconteceu com você?!”.
COMO ASSIM, GENTE?! Essas pessoas não têm vergonha? Não têm noção?
A mina está bem, linda, conhece vários países, tem um emprego massa, é uma mulher incrível, criadora de grandes ideias, por que tem que ter acontecido alguma coisa com ela? Nunca vi ninguém chegar nesse tom pra alguém que emagreceu 10 quilos, e é bem mais possível que alguém emagreça porque está doente, né? Quando são 10 quilos a menos é sempre: “Nossa, tá linda, tá magra, o que você fez?” Tenho vontade de responder: “Quase morri. Quer tentar?”
Já contei mil vezes aqui: quando emagreci muito e muito rápido por causa de uma depressão, pouquíssimas pessoas se preocuparam com minha saúde física ou mental e eu ouvia muito que estava linda. Nem estava. Estava apenas magra. Magra e louca. Mas ouvi “Tá linda, tá magra” mil vezes. Ano passado aconteceu de novo. Uma gastrite e um desgraçamento mental me tiraram 17 quilos. Fiquei assim. É este meu corpo agora, um corpo que consegue ficar preso pela virilha em uma barra de ferro de dois metros de altura, posto que pratico pole dance. Um corpo maravilhoso, que faz coisas incríveis, independentemente de suas formas. E até agora tem gente me perguntando como eu emagreci tanto em tom de elogio. Ninguém cogita doença quando é emagrecimento, né? Depressão, gastrite, tantas outras. Já quando a mulher engorda, ah, alguma coisa aconteceu, está largada, olha lá. Parem, por favor, de se meter no corpo da outra.
Quero começar esse 2018 propondo: vamos nos importar mais com a felicidade das pessoas e menos com os pneus ou as costelas delas? Vai ser bem mais legal pra todo mundo.
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