O casamento do príncipe Harry e Meghan Markle foi definido. Trata-se de uma quebra de barreiras, afinal, ela é uma mulher de fora do Reino Unido, já foi casada e é afro-americana. Diria que, apesar de todas as outras questões, esse último "detalhe" é o que mais tem sido falado.
Afinal, a Inglaterra terá uma duquesa negra? Meghan é filha de mãe negra e pai branco. Apesar dos traços finos e do tom de pele mais claro, ela é considerada negra por alguns em razão da descendência direta. No entanto, para outros não, por não ter as características étnicas. A partir dessa incerteza (que sinceramente, não sei responder), abriu um leque de questões na minha cabeça.
Outro acontecimento que assombrou alguns universitários (e futuros) é a avaliação de estudantes cotistas por raça da UFRGS. No último, a universidade juntou uma banca especializada para verificar se diversos alunos que se diziam negros ou pardos estavam cometendo fraude. A banca foi formada por professores e técnicos com diversidade de gênero e raça. A avaliação levou em conta apenas a aparência (pelo menos isso é o que foi divulgado).
A identidade racial é um assunto que deve ser falado. Não é novidade, mas a cada momento em que precisamos recorrer a opiniões de especialistas, ocorre uma mistura de ideias. É fato que quem tem as características físicas de uma pessoa negra (nariz largo, boca grande, cabelo afro e tom de pele escuro, por exemplo) tem muito mais probabilidade de sofrer racismo e ter menos oportunidades na vida por conta desse fenótipo, se comparado a outras pessoas. Ainda há um grande privilégio de pessoas brancas sobre as negras e isso não pode ser ignorado.
Mas afinal, o que vale mais? Nossa aparência ou nossa genética?
Quando se trata disso, gosto de pensar em um trecho do livro Americanah da minha autora favorita, Chimamanda Ngozi Adichie, em que ela fala de Barack Obama, ex-presidente dos EUA:
–Muita gente — principalmente quem não é negro — diz que Obama não é negro, é birracial, multirracial, mestiço, qualquer coisa menos simplesmente negro. Porque a mãe dele era branca. Mas raça não é biologia; raça é sociologia. Raça não é genótipo; é fenótipo. A raça importa por causa do racismo. Racismo é absurdo porque gira em torno da aparência. Não do sangue que corre nas suas veias. Gira em torno do tom da sua pele, do formato do seu nariz, dos cachos do seu cabelo.
Faz sentido a gente classificar as pessoas pelo que elas sofrem? Se sofre racismo é negro e se não sofre pode ser que não seja? Perguntas difíceis para respostas ainda mais complicadas.
Em um artigo que li no final de semana diz que depende do local. Nos Estados Unidos, o parentesco diz mais quem você é, já no Brasil são as características físicas - isso tudo por conta da miscigenação ocorrida há anos. A diferente colonização deixou uma cultura diferente em cada país.
Quanto ao Brasil, só posso concordar. Aqui a aparência vale mais do que mil palavras ou exames de sangue. Lembro quando, em algum programa de televisão, o Neguinho da Beija Flor - que tem um tom de pele bem escuro - realizou um exame desses para saber sua origem. Apareceu sua descendência alemã e eu fiquei em choque. Só confirma que é quase impossível encontrar brasileiros que tenham uma descendência pura, todo mundo tem um pouco de sangue negro, branco e indígena.
Esse assunto é delicado e ainda bem que está sendo discutido, estudado e tem diversas opiniões. Só assim conseguiremos ser o mais justos possíveis. Não me sinto competente para dar um parecer de conclusão e muito menos sou capacitada para isso. A minha intenção é justamente iniciar a reflexão.
Duda Buchmann é blogueira que gosta de falar do mundo feminino, principalmente da mulher negra, e de inspirações que elevem a autoestima delas. Escreve semanalmente em revistadonna.com.