Por Barbara Nickel e Mariana Bandarra, especial
Se você nunca leu Mulheres que Correm com os Lobos saiba que está de fora de um segredo compartilhado por milhares de leitoras mundo afora. O best-seller da psicanalista americana Clarissa Pinkola Estés completa 25 anos fazendo a cabeça de mulheres de diferentes gerações e convidando a lançar um olhar fora da caixa e das convenções, despertar sua força e seus instintos adormecidos e valorizar a própria história.
Não faltam relatos de gente que mudou de vida depois de ler o livro, que gera debates apaixonados. A cada 15 dias, a jornalista Barbara Nickel e a artista Mariana Bandarra mergulham nos mitos, contos e lendas narrados pela autora e trocam experiências com muitas outras mulheres no podcast Talvez seja isso. Convidamos a dupla para explicar a você por que esse livro fez e faz diferença na vida de tanta gente.
Histórias de cura, poder e sabedoria
Mulheres que Correm com os Lobos é um best-seller incomum, que desafia rótulos e explicações. Lançado em 1992 pela psicanalista, poeta e contadora de histórias americana Clarissa Pinkola Estés, o livro mistura histórias folclóricas com uma profunda análise psicológica para resgatar a natureza feminina indomável – tudo isso temperado com doses generosas de espiritualidade e sabedoria.
A experiência de ler Mulheres que Correm... é multifacetada e poderosa: às vezes sedutora, outras, aterrorizante. Mesmo que as histórias sejam povoadas por mocinhas, bruxas, vilões, animais e criaturas mágicas, a protagonista do livro é a própria leitora. Parte desta mística ao redor do livro tem a ver com o fato de que sua leitura não é lá muito fácil. Ao longo de décadas, incontáveis grupos, círculos, clubes e seminários vêm reunindo leitoras em busca de um entendimento mais profundo sobre os mitos, lendas e contos de fadas com que a autora ilustra o universo feminino profundo.
Nas palavras de Emma Watson, que selecionou Mulheres que Correm... para seu clube de leitura, o livro deve ser lido “no seu próprio ritmo, sem pressa. Mas ele muda a sua vida”. A atriz faz parte de uma nova geração de leitoras, muitas das quais descobriram o livro nas estantes de suas mães. A indicação de leitura parte quase sempre de uma mulher para outra, como uma velha receita de família e saberes ancestrais. Desde o parto natural até os escalda-pés e hortas no quintal de casa, estamos redescobrindo tesouros e experiências de nossas mães, avós e bisavós. Mais do que um livro de histórias, este livro é um mapa do tesouro que, como nos velhos filmes de pirata, está incompleto. Cabe à leitora completá-lo com sua própria história e desenterrar seu tesouro.
3 motivos por que você deve (re)ler
1. Para saber quem você é de verdade
Quem você era antes de aprender o que deveria ser? É comum sermos valorizadas pela nossa capacidade de fazer coisas pelos outros, e muitas mulheres acabam se definindo pelo afeto ou pela aprovação das pessoas que a cercam. Histórias presentes no livro, como La Loba, Manawee e Pele de Foca, não só ensinam a reconhecer a falsa identidade (aquela máscara que a gente usa para ser aceita mas que
acaba nos sufocando mais cedo ou mais tarde) como também oferecem instruções para reconhecer e cultivar aquilo que te torna única. Desse entendimento surge um convívio diferente consigo mesma,
um espaço íntimo em que o amor-próprio se desenvolve e rende frutos. Mulheres que reconhecem e honram suas necessidades profundas têm um poder inegável. Ao se libertarem do desejo de agradar,
elas podem perder o afeto e a aprovação de quem só gosta do que é fácil, mas conquistam uma grande força criativa e atraem relações mais verdadeiras.
2. Para usar o “instinto selvagem” a seu favor
Pouco se fala sobre a natureza instintiva das mulheres para além do instinto materno e do famoso “sexto
sentido”. Treinadas desde a infância para a obediência e a docilidade, muitas mulheres se desconectam de seus instintos e acabam se sentindo incapazes de decidir o que é melhor para si. Histórias como Vasalisa e Os Sapatinhos Vermelhos nos ensinam a superar o medo de perder o controle, “farejar” o perigo e “alimentar” a voz da intuição para desbloquear o poder da autoconfiança. Uma mulher precisa
prestar mais atenção aos próprios instintos do que às opiniões alheias.
3. Para valorizar a própria história
Histórias são remédios para feridas interiores. Reconhecer aspectos de si em cada história requer coragem para enfrentar partes de nós mesmas das quais não gostamos, aquelas que tentamos esconder. E ai elas fortalecem e tornam-se realmente destrutivas. Este livro nos faz reconhecer que o potencial de cura está justamente nas partes mais difíceis da nossa história, nos aspectos indesejáveis da nossa
personalidade. Quando uma mulher compartilha a própria história, começa a se curar. Esse poder de cura toca tudo ao seu redor. E quando a gente muda juntas, o mundo muda junto.
Elas correm com os lobos
A pedido de Donna, Barbara Nickel e Mariana Bandarra perguntaram a suas ouvintes “O que mais marcou você na leitura de Mulheres que Correm com os Lobos?”. Confira os depoimentos:
"Foi uma leitura transformadora. Eu jamais imaginei que, sendo professora de literatura, teria como livro mais marcante algo como o texto da Clarissa Estés. Ele e Grande Sertão: Veredas me deram a sensação de que não estava apenas lendo um livro: algo em mim JÁ estava mudando pelo simples ato de passar os olhos sobre aquelas palavras. Foi um mergulho de autoconhecimento.”
Michele Zgiet, arte-educadora
"Foi como se finalmente eu estivesse voltando pra casa, como se estivesse encontrado o meu lugar de pertencimento.”
Vania França de Oliveira, chef de cozinha
"Tem um conceito que me impactou especialmente: o da vida-morte-vida, que traz a ideia de que algo deve morrer para que o novo possa nascer e trazer uma energia renovadora.”
Mauren Veras, cartunista
"O Mulheres que Correm com os Lobos é exatamente aquela voz que te diz ‘está tudo bem em você ser assim’, pois por muitas vezes eu me senti vilã, e quem não? Somos colocadas em cubículos e obrigadas a caber. Seja o pé em um sapato alto ou o corpo em uma cinta apertada. E quando tomamos consciência dessa mulher selvagem que habita em nós, começamos a enxergar as asas e elas lentamente se abrem, como uma borboleta saindo do casulo. O primeiro contato para esse novo mundo nos dá medo, mas um medo bom, pois é o novo se apresentando para nós. Um novo ciclo, um novo começo.”
Marília Almeida, jornalista
"O que mais tem me marcado durante a leitura deste livro é a capacidade que a autora tem de nos mostrar nossos instintos e forças mais selvagens em benefício do crescimento feminino.”
Janine Viezzer, engenheira agrônoma
"As histórias de cada capítulo estimulam uma reflexão sobre o que somos e o que temos nos tornado, e isso, claro, é difícil de ser feito. Vi que já temos todas as possibilidades em nós mesmas, mas que é preciso seguir o caminho das pedras e é, muitas vezes, necessário que alguém te mostre onde fica esse caminho.”
Michelle Lopes, jornalista
"Desde que iniciei a leitura do livro, tenho renascido a cada dia. Tudo é revolução dentro de mim, do amor, da autoaceitação, do crescimento pessoal e da possibilidade de me conectar cada dia mais com minha mulher selvagem, que responde com verdade, na mesma profundidade das minhas perguntas.”
Clauky Boom, publicitária e poeta
"Foi como se finalmente eu estivesse voltando pra casa, como se estivesse encontrado o meu lugar de pertencimento.”
Vania França de Oliveira, chef de cozinha
"O livro tem sido pra mim um despertar de algo que estava adormecido durante muito tempo, abafado pelas exigências da correria da vida moderna. Me impressiona como, de repente, me recordo da minha avó materna com seus defumadores na passagem de ano, ou minha avó paterna nos servindo chá feito de ervas do seu quintal, enquanto nos contava histórias.”
Vanêssa Ribeiro, funcionária pública