Foto: Pexels, reprodução :: Pesquisa aponta que solteiros não estão mais tão interessados em sexo casual :: Da paquera ao “enfim sós”, como o mundo digital reinventou os ritos do relacionamento
Se você ainda tem algum preconceito em relação a aplicativos de paquera, cabe citar dois dados: segundo um estudo norte-americano que mapeou 19,1 mil casamentos entre 2005 e 2012, um em cada três casais haviam se encontrado por meio da internet. E mais: outro estudo apontou que relacionamentos iniciados online têm maiores índices de satisfação e são menos propensos a divórcios.
Mas quem disse que o índice de sucesso em apps de relacionamento deve ser medido em casamentos? Bem, se não é esse o objetivo, melhor ainda, segundo a psicóloga Lígia Barush de Figueiredo, que os enxerga como uma experiência libertadora:
– Hoje muitas mulheres podem sair de casamentos abusivos, divorciar-se e encontrar companhia em qualquer idade e de acordo com seus critérios. Outras tantas podem ter um cardápio de opções, vivenciando isso sem depender de seu grupo social para apresentações. Uma vasta experiência relacional e sexual, do tamanho que antes só era permitida aos homens.
Lígia é a autora de uma pesquisa de doutorado que mapeou o uso de aplicativos de paquera por geolocalização entre mulheres apelidadas de “Tinderellas”. O nome é uma mistura de Tinder, o mais famoso dos apps, com Cinderella, a princesa que às vezes sonha com o príncipe, mas que, na versão 2017, talvez até prefira encerrar o date antes da meia-noite, dormindo sozinha na sua cama. A psicóloga define:
– As Tinderellas representam um tipo específico de mulher: já ultrapassaram os 35 anos de idade, são mais empoderadas do que a população feminina brasileira de modo geral, pertencem a estratos sociais com poder econômico, residem em grandes centros urbanos e têm acesso à cultura e à tecnologia. Todas aderiram aos aplicativos de encontros, mas, cada uma a seu modo, adaptando o uso de acordo com seus propósitos particulares.
A comparação mais utilizada pelas usuárias do app foi a balada: há quem esteja para buscar alguém para a vida e quem queira só se divertir. Com algumas vantagens no campo virtual, como partir de um interesse mútuo, poder pesquisar um pouco mais sobre a pessoa antes do encontro e poder interagir sem a influência (e os arrependimentos) do álcool.
A pesquisa deu origem ao livro Tinderellas – O Amor na Era Digital (Emma Livros, 2017, R$ 45) e à conclusão de que as Tinderellas brasileiras se dividem em três tipos.
QUE TINDERELLA VOCÊ É?
A PODEROSA
Na vida
Independente e com a estima em alta, é a Poderosa quem faz o uso mais lúdico e leve do aplicativo. Ela está bem sozinha e tem um pouco de preguiça em investir em um relacionamento, às vezes até foge deles. Não fantasia um amor para sempre nem um provedor, mas uma companhia para curtir a vida. Incluir alguém na sua vida é uma possibilidade, mas ela não está disposta a sacrificar a liberdade em nome disso.
No app
♦ Usa de forma lúdica. O fato de sair com alguém não quer dizer que queira ficar com ele
♦ Gosta de bater-papo e é boa ouvinte, mas não quer fazer ou dar “entrevistas” aos pretendentes
♦ É mais ativa na busca e nos matchs, pois teme menos a rejeição e o abandono
♦ É comum ficar amiga de Facebook de alguns caras com que saiu, às vezes ficou, mas não levou adiante
♦ Acha os homens um pouco ansiosos em colocar “todas as qualidades na mesa”
DEPOIMENTO NO LIVRO
“Lembro de uma semana em que eu saí com três. Não fiquei com nenhum, é engraçado, mas eu fui: saía e tal, ia conhecer. A gente conversou, eu tomei cerveja, foi ótimo, acho que eu estava precisando disso, de uma companhia. Tinha tido um dia cheio, passei uma hora e meia no bar, tomei uma cerveja, comi uma batatinha e fui para casa feliz e contente, entendeu?”
A ROMÂNTICA
Na vida
Pode ser tão ocupada e independente quanto a Poderosa, mas enxerga isso como um obstáculo para encontrar alguém legal. É observadora da alma masculina, perseverante e acredita em química, mesmo à distância. Defende um perfil neotradicional: acredita que homens e mulheres têm papéis próprios em uma relação, mas não abdica de vitórias da mulher, como o trabalho e o prazer sexual.
No app
♦ É mais assertiva, não perde tempo com quem não está interessada
♦ Observa comportamentos além da fala. Por exemplo: se o cara demora para responder é porque está no chat com outras
♦ Quando encontra um cara legal, deixa de lado o app. Às vezes, deleta
♦ Rejeita homens que estejam lá “mais pela embalagem do que pelo conteúdo”
♦ Toma cuidado para não soar chata, usa o charme e o humor e mostra uma abertura carinhosa, mas só para o perfil que lhe interessa
DEPOIMENTO NO LIVRO
“As mulheres sempre olham para os homens achando que eles são ‘comedores’, que eles querem tirar vantagens delas. E, na verdade, quando a gente olha mais de perto, eles estão morrendo de medo, igual a nós, de serem machucados. Se elas pudessem saber disso, teriam menos mulheres solteiras.”
A ANTROPÓLOGA
Na vida
Esta é a mais cética, desconfiada e contraditória dos perfis. Às vezes marcada por relacionamentos anteriores, ela tem vontade, mas, ao mesmo tempo, dificuldade de se abrir para pessoas novas em uma vida já constituída sozinha. Daí ter um nível de exigência alto, como autoproteção. Seu ideal de relacionamento é mais democrático: está mais para Poderosa do que para Romântica.
No app
♦ Faz as escolhas em duas etapas. Depois de abordada, decidirá com quem e quando iniciar uma conversa
♦ É um bom papo para amenidades, mas protege a sua intimidade. Faz muitas perguntas e dá poucas respostas
♦ Prefere rejeitar pretendentes antes quando percebe a chance de ser rejeitada
♦ Curiosa, é o perfil que mais dá importância para aspectos como os amigos em comum, o estilo de foto etc.
♦ É contraditória: quanto mais se interessa, mais nervosa e introspectiva fica
DEPOIMENTO NO LIVRO
“No início, eu não pensava em encontrar ninguém, de sair e encontrar pessoalmente. Eu estava só olhando, mais para ver como funcionava. Se achasse interessante, continuaria usando. As pessoas mandavam mensagens, e eu não respondia. Olhava e ia deixando, porque eu não tinha muita certeza se queria estar ali.”
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