Ratan Naval Tata nasceu em Bombaim, na Índia, em 28 de dezembro de 1937. Completa 80 anos dentro de nove meses e mantém-se firme e forte na presidência do maior conglomerado empresarial do país. O faturamento anual do Grupo Tata soma US$ 30 bilhões e responde por 3,2% da riqueza nacional da Índia.
MUITO PRAZER, SOU RATAN TATA
Recentemente, terminada uma palestra em Londres, Tata aproveitou os minutos finais para oferecer alguns ensinamentos de vida. Três deles:
1) Coma seus alimentos como se fossem remédios. Do contrário, terá que comer seus remédios como se fossem alimentos.
2) Não eduque seus filhos para serem ricos. Eduque-os para serem felizes. Assim, quando crescerem, saberão o valor das coisas e não o preço.
3) Você foi amado quando nasceu e será amado quando morrer. Neste intervalo, você precisa fazer por merecer.
ESTE ÚLTIMO ENSINAMENTO É TENSO
NO TEU CASO, BEM TENSO
Pessoas que cresceram com Tata, ex-colegas de escola, de cursos, de faculdade, amigos de infância e familiares concordam com uma virtude máxima do empresário: a ausência de inveja. Tata jamais ambicionou o que era do outro. Ou, pior ainda, nunca desejou que o outro não tivesse aquilo que ele, Tata, também não podia ter. Lendo sobre esta passagem da vida de Ratan Tata, me dei conta sobre a enorme diferença e confusão que existe entre dois sentimentos aparentemente iguais: inveja e ciúme.
QUAL É A DIFERENÇA, MARIANA?
Ciúme e inveja nunca foram e nunca serão a mesma coisa. Enquanto o ciúme é um sentimento motivado por algo que se possui e que se tem medo de perder, a inveja é estimulada por algo que não se possui, mas que se quer ter - e o mais feio de tudo: a vontade que o outro perca e/ou não tenha. Enquanto o ciúme é motivado pelo sentimento de perda, a inveja é motivada pelo sentimento de ambição.
Outra confusão bastante comum reside entre a inveja e admiração. Nem sempre aquela pessoa que admira você está necessariamente invejando quem você é ou o que você tem. A admiração, coitada, é um sentimento do bem e não raro vê-se confundida com o ódio da inveja. Na admiração, existe um vínculo de amor que oportuniza um relacionamento sadio; na inveja, há uma implacável ganância destruidora.
E A “INVEJA BRANCA”, MARIANA?
Inveja branca é uma expressão popular que significa "inveja do bem". Trata-se de um sentimento de inveja de algo bom que alguém possui, mas sem desejar que essa pessoa deixe de possuir o que tem. Eu tenho inveja branca de um catatau de coisas. Tenho inveja branca de quem viaja duas vezes por ano, de quem nunca tem insônia, de quem faz transporte na academia e não vai parar de cama com dor lombar, de quem não se importa com uma perereca no quarto e uma lagartixa na parede, de quem mata barata, de todas as mulheres do mundo que usam felizes um par de meia-calça (a minha escorrega, rasga e comprime meu diafragma), de quem tem uma boca linda e fica divina de batom vermelho…
INVEJA BRANCA
Tenho inveja branca de quem não precisa de dois Rivotril para subir num avião, de quem curte a paisagem pela janela ao invés de passar a viagem inteira olhando para baixo tendo contrações e agarrada no saco de vômito. Tenho inveja branca de quem conhece o Japão e viaja até o Japão com uma mala de 15 quilos. Tenho inveja branca de quem come maçã no lanche da tarde e de quem sabe escolher melão no supermercado. De quem compra livro de receitas e faz as receitas e não apenas compra livros e mais livros de receitas para servir de enfeite na estante.
Tenho inveja branca de quem acha superfácil beber dois litros de água por dia e mais fácil ainda beber água morna com limão ao acordar. De quem não tem frizz no cabelo, de quem joga frescobol na praia com sutiã tomara-que-caia e mais inveja branca ainda de quem não perde o tomara-que-caia no meio da praia. De quem morde sabugo de milho e não fica com todos os grãos enfiados no meio dos dentes. Tenho inveja branca de todas as rainhas de bateria de todas as escolas de samba, de quem veste a moda color blocking e não fica parecendo figurante da ala da insensatez da Mangueira.
Tenho inveja branca de quem consegue entrar na farmácia só para comprar Neosaldina e sair de lá sem duas sacolas de cosméticos. Tenho inveja branca de quem assiste a filmes com animais sem chorar de dar escândalo e sem ser convidada a se retirar do cinema pela gerência. De quem tem a sorte de viajar oito horas de ônibus sem uma adolescente na poltrona ao lado mastigando um Trident sabor melancia de boca aberta. Tenho inveja branca de quem consegue comer só um Bis, só um brigadeiro e de quem pode ter em casa um pacote de bolachas Oreo e um vidro de Nutella pois possui autocontrole o suficiente para que durem mais do que 24 horas.
Por fim (porque acabou o espaço), mas não por último, tenho inveja branca de quem tem um cachorro dócil, educado, compreensivo e que não se coloca sempre em primeiro lugar em tudo, sob pena de ensurdecer sua dona com gritos e latidos de protesto. Também tenho inveja branca de donas de cachorros sem alergias e otites incuráveis nos ouvidos.
SEMPRE SOBRA PRA MIM
É AMOR, BENTO
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