Tenho prestado mais atenção no significado das palavras que saem da minha boca – por mais lindas e aparentemente inofensivas que elas sejam. Nos últimos tempos, andava incomodada com a palavra “obrigado”. Qual o sentido de agradecer algo a alguém com uma expressão que mais parece imposta, forçada, imperiosa? Não parece que estou sendo obrigada a expressar gratidão?
MUITO OBRIGADA!!!
Para o jornalista e escritor Sérgio Rodrigues, autor do livro Viva a Língua Brasileira e especialista no português falado no Brasil, o sentido de obrigado como forma de agradecimento é literal. “O particípio do verbo obrigar (do latim obligare, ligar por todos os lados, ligar moralmente) expressa o reconhecimento de uma dívida entre quem recebe um favor ou gentileza e quem o faz – ambos, dessa forma, ligados, atados, presos por um laço moral”, esclarece Sérgio.
MINHA SUSPEITA FAZIA SENTIDO…
A palavra “gratidão” já é diferente – embora venha sendo usada e abusada (oh, coitada!) em todas as formas de correntes e frases de efeito nas redes sociais. Tudo agora virou “gratidão”. De preferência com algum emoji do lado.
ESTE É O PREFERIDO
ME IRRITA UM POUCO A BANALIZAÇÃO DA PALAVRA
Gratidão vem do latim “gratia”, que significa literalmente graça, ou gratus, que se traduz como agradável. Significa reconhecimento agradável por tudo quanto se recebe ou lhe é reconhecido. É uma expressão que envolve um sentimento – portanto, não há obrigações, ligações ou amarrações a exemplo de “obrigado”.
GRATIDÃO
FAZ IGUAL E SE IRRITA COM OS OUTROS
“Merece” é outra expressão que acho linda, mas, diferentemente dos rio-grandinos, pelotenses e gaúchos dos demais municípios da fronteira, não temos o hábito de usar aqui na Capital. Cada vez que vou e volto de carro do Uruguai e sento para almoçar ali no restaurante Ongarato, na localidade do Povo Novo, entre Rio Grande e Pelotas, agradeço a rapidez do a la minuta servido, e os garçons prontamente respondem “merece”. Aquela refeição ganha de imediato um sabor ainda mais especial. Em vez de devolverem um insosso “de nada”, respondem um inspirador “merece”.
MERECE!
PERCEBE A DIFERENÇA?
Tenho me esforçado para sair do piloto automático e fazer a troca do “obrigado” por “grata” e o “de nada” por “merece” – a começar por agora. Sou grata por este espaço ocupado durante cinco anos com minha coluna. Hoje, ele chega ao fim no jornal.
COMO ASSIM?
NÓS VAMOS EMBORA?
ME DEIXEM EXPLICAR?
Semana passada, recebi um telefonema da direção de Donna comunicando que, devido a uma pesquisa, decidiu-se revitalizar o time de colunistas para melhor atender as necessidades e a visão do público sobre o produto. Desta forma, portanto, não haveria mais espaço para a publicação desta coluna. Me despeço com gratidão.
Desejo sucesso à revista Donna em sua nova fase a partir de abril com seu novo time de colunistas. Sou grata ao Grupo RBS pela confiança e por todos esses anos de aprendizado e convívio. Sou grata à direção de jornalismo de Zero Hora que me concedeu o Prêmio RBS de Jornalismo e Entretenimento na categoria Inovação pelo meu blog e por esta coluna.
Minha mais eterna gratidão a todos os leitores e leitoras que me fizeram companhia a cada fim de semana, àqueles que sempre escreveram sugerindo ideias e elogiando meu trabalho – e também com críticas sempre amorosas e construtivas. Serei eternamente grata por terem aberto as portas de suas casas para meus pensamentos e devaneios.
DESCULPA ALGUMA COISA, VIU?
Como forma de agradecimento durante todos esses cinco anos entrando em suas casas, agora ofereço a minha casa. Ela está localizada no mundo digital. Esta coluna termina aqui, mas continua viva no meu site. Todo sábado de manhã, estaremos de portas abertas para recebê-los. Será um enorme prazer contar com a companhia de quem curte nossas histórias e de quem sempre nos abraçou de maneira tão calorosa. Sejam bem-vindos. Vocês merecem. Agora vamos?
VAMOS!!
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