Júnior não consegue ficar com uma mulher só. Não adianta. Já jurou amor e fidelidade mil vezes, mas quando a relação começa a ficar um pouco mais séria ele logo dá um jeito de cair fora. E antes mesmo de terminar com a anterior, já está de olho em uma nova paixão. E assim vai colecionando ex-amores e muitas frustrações _ para ele e para elas, que não entendem como aquele homem, que parece ser tão gente boa e tão amável, não consegue se amarrar de verdade a ninguém.
Entre os amigos ele é conhecido como “Don Juan”, o personagem espanhol que teria vivido em Sevilla, na Espanha. Conta a lenda que era um homem belíssimo, galanteador e de olhar misterioso. Seduzia e atraía todas as mulheres com suas estratégias e jogos de sedução. Na verdade, era um conquistador barato, que sentia um prazer muito maior em fazer com que as mulheres se apaixonassem do que em manter a relação posteriormente. Pouco depois de conseguir o seu intento, Don Juan desaparecia. Era parte de seu jogo deixar as pobres donzelas desesperadas, fantasiando seu retorno.
Até hoje se diz que homens mulherengos e sedutores, aqueles que não conseguem ficar longe de um rabo de saia, fazendo de tudo para conquistar uma mulher, mesmo (ou principalmente) quando ela não se mostra interessada, sofrem da “Síndrome de Don Juan”. Provavelmente é deste mal que padece o meu amigo Júnior. A psicologia explica que este comportamento é observado com maior certa frequência em homens que são exageradamente vinculados à mãe. Esta ligação acaba gerando uma idealização da figura feminina, quase como uma deusa dotada de uma perfeição incrível, o que, obviamente, vai gerar frustração, já que ele nunca encontrará uma mulher assim, por melhor que ela seja.
Na verdade, estes Don Juans saem pelo mundo procurando sua mãe em outras mulheres, e, com medo de sofrerem desilusões profundas, preferem não se apegar a ninguém. Por isso, tantas conquistas efêmeras. Contei sobre esta síndrome para meu amigo Júnior, e sugeri que lesse mais sobre o assunto e, se fosse o caso, procurasse ajuda profissional para entender melhor o porquê de tanto medo de se apaixonar de verdade. Ele deu uma gargalhada, riu de tudo o que falei e não me levou a sério. Disse que apenas estava esperando aparecer a pessoa certa, aí sim criará juízo e deixará a vida de conquistador.
Quando eu ia oferecer a Júnior um segundo café, o celular do meu amigo tocou. Era a futura nova conquista, que estava ali perto e gostaria de encontrá-lo. Pediu-me mil desculpas e saiu apressado. “Não posso me atrasar. É uma tremenda gata”, comentou. Saiu ajeitando o cabelo e arrumando o colarinho da camisa. O predador estava de volta à caça.