Charles James com modelo experimentando vestido de sua autoria ::Confira aqui mais colunas de Celia Ribeiro ::Conheça nossos colunistas
Cecil Beaton, o famoso fotógrafo e estilista que fez os figurinos de Andrey Hepburn para o filme “My Fair Lady”, fotografou clientes de Charles James que se sentiam homenageadas, fazendo às vezes de modelos profissionais.
No tempo em que eu viajava muito ao exterior adorava ver exposições de moda, em Paris, Londres e Nova York. Foi assim que comecei uma coleção de catálogos, que continua sendo ampliada até hoje graças aos meus amigos. O gaúcho Guilherme Paz, residente em Nova York, a cada visita sua a um “fashion show” me manda o catálogo por correio. Luiz Inácio Medeiros, com quem convivo bastante, em suas frequentes viagens também se lembra de mim, enriquecendo o acervo.
Quem for a Nova York até 10 de agosto (domingo) pode ver no Metropolitan Museum a exposição “Charles James Beyond Fashion”. Charles James (1906-1978) é um nome pouco conhecido na América do Sul, mas famoso na Europa e nos Estados Unidos. Filho de um militar inglês e uma aristocrata de Chicago, James nasceu na Inglaterra. Fez sua carreira de estilista entre os grandes da moda europeia, recebendo suas clientes em seus elegantes endereços. O atelier de Londres ficava no bairro Mayfair – 15, Bruton Street – próximo ao Green Park; em Paris suas clientes arcavam hora no Hotel Lancaster, junto da Avenue George V. Em 1939 radicou-se definitivamente em Nova York, com um atelier montado no número 12 East, 57 Street. Criador de vestidos de grande gala Charles James trabalhava para mulheres de grandes famílias americanas, como Austine Hearst, que aparece com ele na foto, vestindo o modelo de tafetá vermelho e preto.
Construção no processo de design
As exposições de moda promovidas pelo Metrollitan Musum através de seu Costume Institute eram sempre de montagem tradicional, sem o glamour da maioria das europeias. Recentemente o setor de moda foi redesenhado. Além do subsolo, ganhou mais um andar e passou a ser chamado de Anna Wintour Costume Center (lembram do filme o “Diabo veste Prada?” Anna W é a editora nova-iorquina que o inspirou).
Uma das manifestações da reforma no setor fashion do MET é o uso de novas tecnologias. Assim, um dos vestidos com etiqueta Charles James está exposto sobre um piso de vidro que revela a construção dessa roupa, em sobreposições. É só observar as fotos dos modelos que você verá que ele trabalhava em camadas de tecidos de diferentes texturas. Para criar um poof, dobrava a saia superior para baixo e o tafetá era esculpido, resultando num efeito escultural. James gostava de assimetria: uma saia de tecido de cor contrastante é costurada na cintura cobrindo metade da saia principal.
O design de Charles James, fora dos padrões da sua época, em Paris, era sucesso. Christian Dior declarou que seu knew look (cintura bem marcada de saia godê pelo tornozelo, deixando ver uma barra contrastante da saia inferior) teve influência da moda de Charles James. Olhe bem estas fotos: não há um vestido que não possa ser usado no século 21. É um clássico modernizado com arrojo, inserindo-se na moda “vintage”, atemporal, de uma roupa sempre usável pela qualidade e o design. Como uma obra de arte.