Leila Diniz causou polêmica ao ir de biquíni à praia durante a gestação
Eleito governador do estado de São Paulo, Jânio Quadros tomou uma decisão no ano de 1957: exterminou a execução do rock'n'roll nos bailes do estado. Quatro anos depois, no início de seu mandato como presidente, Jânio proibiu também as rinhas de galo, a hipnose em lugares públicos, os lança-perfumes e os maiôs em concursos de beleza. Nenhum destes itens atingiu de forma tão forte a identidade nacional, pois Jango teve a ousadia de proibir os biquínis nas praias brasileiras. Tapar as vergonhas sempre foi uma utilidade do traje de banho. Em 1970, a pátria-mãe-gentil provou não ser tão materna ao execrar uma loura por desfilar na praia com a barriga à mostra. Leila Diniz ostentava os seis meses de gravidez com um biquíni.
"Se fosse meu o segredo do teu corpo, eu gritaria para todo mundo." Com estas palavras o filme de Domingos de Oliveira que dá nome a esta coluna fala da personagem interpretada por Leila Diniz. E poderiam ter sido escritas sobre a atriz ¬– boatos correm de que realmente eram para ela, Leila e Domingos foram casados por três anos. O segredo de Leila não residia em seu corpo. Há quem diga que o segredo era o jeito de garota carioca, tão festejado por marcas de moda que são the face of Rio como Farm e Cantão. Foi a mesma Leila quem disse: "não sou muito pela moda, sou mais pela sinceridade."
Pelo olhar matemático da geometria, o biquíni não passa de um conjunto de triângulos pequenos demais. Para a moda nacional, trata-se de cifras grandes. Segundo o levantamento do Global Market Review of Swimwear and Beachwear, o mercado de moda mundial movimenta US$ 12 bilhões ao ano. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), os brasileiros são os que mais consomem moda praia no mundo, moveram cerca de US$ 1,9 bilhão em 2012, cerca de um oitavo de toda a movimentação de moda praia mundial. O mercado da moda no Brasil emprega 1,7 milhões de pessoas e movimenta R$ 50 bilhões ao todo segundo dados do IBGE.
Do total pesquisado no Brasil, 88% das mulheres têm um biquíni no armário e apenas 41% tem um maiô. A maioria das brasileiras que consome moda praia (82%) planeja a compra deste item antes de entrar na loja. Entre os motivos que a levam a comprar estão as férias (59%), achar a peça interessante (47%) ou simplesmente estar cansada da peça antiga (46%), aquele surrado que frequentou de Cidreira a Punta del Este.
Peça antiga no armário da brasileira é também a objetificação (e não apenas as mulheres estão cansadas dela, esta é uma bandeira de qualquer homem que se preze). Há uma história famosa de Leila: ela teria ouvido de um coronel que não entendia porque ela não transava com ele, afinal... ela transava com todo mundo. Leila então respondeu: "Eu trepo com todo mundo, só não trepo com qualquer um". Antes de acabar esta coluna, quero deixar uma dica de leitura. Um projeto financiado coletivamente que, junto com o Think Olga, tem ensinado a mim muito sobre o que é ser mulher: Lugar de Mulher. Porque eu acredito numa moda que não "esconde gordurinhas", mas encoraja a mostrar o que se é.