Meu amigo caminhava na Borges, ladeava o Parque Marinha, quando passa um ônibus de excursão de colégio. Entre a algazarra escuta algo particular: E aí, careca!. Olha para os lados numa derradeira esperança, mas não resta dúvida, não há mais ninguém, o careca é ele. O ônibus da juventude passou, e ele não estava dentro.
Ele já sabia. Acompanhava triste as partidas cotidianas, o travesseiro lhe fazia confidências, a limpeza do ralo era uma tortura. Porém, nunca tinha ouvido a maldita palavra, e isso faz toda a diferença. Seu antigo cabelo cacheado, que já não consistia, ganhara uma tesourada verbal.
Este foi o último dia de seu lamento, raspou o cabelo. Ao não esconder nada, recuperou a felicidade e a autoestima. Insiste que a única atitude digna de um homem é assumir, pouco importa a idade em que venha o infortúnio. Segundo ele, não se trata de colocar de lado a vaidade e a elegância, mas cabelo é projeção de uma atitude masculina por excelência.
Mario Corso: quando o homem fica careca
Redação Donna
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