
Mesmo que não tenha idade para ser a garota de Ipanema dos versos de Tom e Vinícius, Ângela Vieira é uma bela carioca a esbanjar beleza em curvas que não se perderam ao longo de três décadas de carreira. Musa e mulher do cartunista Miguel Paiva, a atriz, que já foi bailarina do Teatro Municipal do Rio, acabou de completar 59 anos em pleno vigor, como os gaúchos poderão conferir nos palcos em breve.
A partir do próximo sábado, a atriz incursiona pelo Estado com a peça tragicômica O Matador de Santas, em que interpreta Jorgina, uma mulher habituada a controlar a vida da família e que agora suspeita que o vizinho seja um assassino. Com direção de Guilherme Leme, o espetáculo cumpre temporada dentro do projeto Arte Sesc em Gravataí (26/3), Lajeado (27/3), Bento Gonçalves (29/3), Caxias do Sul (30/3), Passo Fundo (1º/4) e Ijuí (2/4). Em maio, será a vez de Porto Alegre no 6º Festival Palco Giratório Sesc.
Na entrevista a seguir, Ângela fala com bom humor sobre o passar do tempo, a felicidade de ter encontrado o grande amor aos 50 anos e o futuro.
Atriz improvável
"Comecei a carreira de atriz aos 26 anos, tarde para os moldes brasileiros. Troquei de profissão: era bailarina profissional, terminei a faculdade de programação visual, depois fui fazer teatro e TV. Mas não fiz escola de teatro. Fui aprendendo conforme fui fazendo. Tenho muito o que fazer ainda e vou morrer aprendendo, mas acho que tenho uma carreira feliz para quem não teve uma formação tradicional. Na biografia do Tonico Pereira, ator e amigo que está comigo no elenco e a quem admiro muito, o subtítulo é: 'Um ator improvável'. Parafraseando o Tonico, eu era uma atriz improvável também. Evidentemente, fico com a sensação de que estou indo na direção do dever cumprido."
Envelhecer
"Acho que à medida que você vai envelhecendo — as pessoas não gostam de usar esse verbo, mas a palavra é essa ,- vai tendo mais dificuldade para manter a dignidade (risos). Fica tudo mais difícil, porque você não pode fazer certas coisas, e é preciso fazer conchavos. Por exemplo: não posso mais correr 10 quilômetros depois que me machuquei, não dá mais para tomar vinho toda semana porque fico inchada, o metabolismo é outro. Isso às vezes chateia, mas é muito melhor do que estar com a saúde ruim. Então, esses conchavos a gente tem que fazer o resto da vida, mas isso é detalhe. Acho que não queria mudar nada em mim."
Sexy aos 60
"Claro que tenho todos os problemas que todas as mulheres têm. Fico pensando: 'Meu Deus, não posso me enrugar porque vou ter que desembolsar uma grana para a cirurgia plástica' (risos). O que faço é cuidar da saúde e do corpo desde pequena. O balé me deu essa disciplina. Além disso, há a genética: essa jovialidade que as pessoas falam que tenho, vejo na minha mãe. Ela tem 87 anos, mas parece 10 anos menos. Minha alimentação é equilibrada, e adoro comer. Como de três em três horas, mas trato a alimentação de forma gentil. Não como fritura nem farinha branca, tomo meu vinho no fim de semana, mas sem exageros. Corro dia sim, dia não cinco quilômetros, faço hidroginástica e musculação. As aulas de dança não fazem mais parte da minha rotina, mas Miguel e eu adoramos dançar. Recentemente, um amigo nosso abriu um lugar chamado Le Boate no Rio. O slogan é 'desaconselhável para menores de 40 anos' (risos). Então é para a gente mesmo…"
Amor aos 50
"Me apaixonei aos 50 anos por uma pessoa que conheci há 20. E está sendo um casamento fantástico. Sei que é difícil para uma mulher brasileira de 50 anos começar a namorar. Outro dia, numa roda de amigas, falamos que os homens interessantes e 'disponíveis' são gays. Por isso, digo que meu encontro com o Miguel foi bárbaro. Ele já era um dos meus melhores amigos."
Futuro
"Estou sempre fazendo planos. Férias são bem-vindas por um tempo curto porque estamos aqui para produzir, experimentar. Como disse o Guilherme (Leme, diretor) durante os ensaios: 'Pula e reza para o para-quedas abrir… ou para que você crie asas'. É assim que devemos viver."