
Lurdes Torelly nunca gravou ou compôs um grande sucesso nem teve pretensões artísticas. A morena de olhos verdes, nascida em uma família tradicional do Rio Grande do Sul, ganhou fama nacional por ter, há 64 anos, se apaixonado por um homem casado.
A microssérie Dalva e Herivelto, exibida neste mês na RBS TV, contou em cinco capítulos uma das histórias de amor e música mais polêmicas do showbiz nacional: como Dalva de Oliveira e Herivelto Martins alcançaram o sucesso com o Trio de Ouro na virada dos anos 1940 e descambaram para as páginas da imprensa marrom em repetidos escândalos e trocas de acusações depois de mais de uma década de vida em comum.
Lurdes (interpretada por Maria Fernanda Cândido) foi o estopim para o rompimento dessa conturbada união e tornou-se a companheira de Herivelto até a morte. E soube, melhor do que ele, como selar a paz com Dalva.
A bela do Menino Deus
Quando Lurdes foi anunciada na microssérie Dalva e Herivelto como "a jovem de tradicional família gaúcha" não era exagero. Ela é neta do engenheiro Firmino Torelly, que empresta seu nome ao sobrado da Avenida Independência, sede da Secretaria Municipal de Cultura da Capital, filha do renomado advogado Pio Pinto Torelly e prima do jornalista e humorista Apparício Torelly, o Barão de Itararé - o velhinho barbudo que aparecia todos os Natais na casa de Lurdes e Herivelto, no Rio, e que impressionava a filha do casal, Yaçanã.
Em Porto Alegre, Lurdes seguiu o script das garotas bem nascidas: estudou com as irmãs mais novas, Conceição e Jane, no colégio Sévigné e fez o footing na Rua da Praia, onde era costume passear para ver e ser visto. Ela cresceu no número 643 da Avenida Getúlio Vargas, no Menino Deus, em uma propriedade tão grande que abrigava um campo de futebol, onde o irmão mais velho, René, organizava jogos dos quais participava o primo Jorge Torelly. Aos 82 anos, o dentista lembra que Lurdes atuava como goleira:
- Ela era 20 vezes mais bonita do que Maria Fernanda Cândido.
Aos 16 anos, Lurdes subiu ao altar com o instrutor de natação Armando Taborda. Eles teriam se conhecido no Clube Excursionista (que foi anexado como sede campestre do Clube do Comércio). O casamento durou pouco mais de um ano e deu ao casal um filho, Newton.
Com a morte de Pio Pinto, a mãe de Lurdes, Sílvia, partiu com os filhos para o Rio, onde havia nascido - ela não queria viver tutelada pelo sogro. Lurdes seguiu com eles, levando seu filho. Era lá que ela conheceria seu grande amor.