No inicio de seu casamento, Lily Copenagle e Jamie Kennel começaram a planejar sua vida juntos, criando projetos para a casa e fazendo listas de itens indispensáveis em blocos e guardanapos de papel.
A ideia era simples: eles iam projetar uma casa que fosse grande o suficiente para os dois, mas pequena o suficiente para ser fácil de manter e, ao mesmo tempo, sustentável. Isso lhes daria mais tempo e recursos para atividades intelectuais e recreativas. Ter menos e viver mais. Parece chavão, mas tornou-se sua filosofia de vida.
- Nunca gostei de móveis, de limpeza nem de cuidar de coisas que realmente não precisamos - disse Copenagle, 40 anos, formada em Física e Biologia Celular e diretora associada do Reed College, em Portland, Oregon, onde seu trabalho é ajudar os estudantes a ficarem e se tornarem bem sucedidos na faculdade.
Foto: Aaron Leitz / The New York Times
Como o marido dela disse, "há muito mais liberdade pessoal quando se escolhe um imóvel menor". Kennel, 38 anos, é diretor de um programa de paramédicos em Portland e planeja fazer um doutorado em Educação ou Ciências Comportamentais, e está particularmente interessado em como pequenas equipes de técnicos de emergência médica e outros trabalham juntos durante uma crise, muitas vezes em locais bastante pequenos.
Copenagle afirmou:
- Jamie está em contato com pessoas no dia de suas vidas em que sua saúde está pior, e eu em seu momento acadêmico mais difícil.
Os dois se casaram há oito anos, após namorar por um ano, em uma cerimônia especialmente pequena (só eles dois) quando estavam de férias na Nicarágua. Quando voltaram à Portland, deram uma festa para os amigos e a família para não deixar passar em branco. Logo depois, eles começaram a fazer as listas.
Foto: Aaron Leitz / The New York Times
Kennel queria um lugar que não tivesse os quartos apertados e batentes baixos das casas mais antigas onde haviam morado, para ele não precisar se lembrar de abaixar a cabeça toda vez que tivesse que passar por uma porta.
Copenagle queria um espaço pequeno o suficiente para aspirar em cinco minutos, ao alcance do cabo do aspirador ligado em uma única tomada, para não ter que ligá-lo e desligá-lo várias vezes.
E nem pensar em escadas porque a Sirena, um de seus amados cães de resgate, tem 14 anos e está muito fraca, e também porque eles sabem que por mais jovens e ágeis que sejam agora, um dia eles podem chegar a estar na mesma situação dela.
Foto: Aaron Leitz / The New York Times
Após se mudarem a um bairro na zona norte da cidade, eles compraram uma velha casa dos anos 50 em um terreno comprido por US$ 190 mil, e a demoliram, doaram e reciclaram qualquer coisa reutilizável. Tudo o que jogaram fora encheu só uma caçamba.
Os vizinhos ficaram preocupados com o que poderia surgir no lugar daquela antiga casa: uma mansão, vários townhouses ou alguma esquisitice nojenta entre os bangalôs modestos do local. Ninguém imaginava que o casal construiria uma pequena casinha arrumada de pouco mais de 65 metros quadrados (65,4 exatamente), com um telhado abobadado verde, plantados com fauna nativa e um ar amistoso dos anos 60.
- Minha mãe brinca dizendo que pegamos uma casa muito boa de dois quartos e colocamos uma sala nela - disse Copenagle.
A família de Kennel também não conseguia entender isso. Ele disse:
- Ela não se encaixa na imagem social de sucesso deles, em geral. Se estamos tão bem, por que não mostrá-lo com uma casa?
Até os arquitetos com quem falaram rejeitaram a ideia, disse Copenagle.
- Eles ficavam nos perguntando: vocês não querem mesmo fazer isso, né?
Afinal, morar em pequenas dimensões tem seus defensores, mas ainda é sub-representada no mercado imobiliário norte-americano. Em 2012, a casa média construída nos Estados Unidos foi de uns 232,3 metros quadrados.
Mas não era questão de status ou dinheiro.
- Sem dúvida, nós podemos comprar um imóvel maior, mais caro, mas não é o que queremos - disse Copenagle.
Então, eles insistiram: encomendaram um projeto que eles mesmos bolaram, deram entrada aos alvarás e contrataram um empreiteiro. Entretanto, conforme Copenagle, o casal estava na obra o tempo todo, mas o empreiteiro nunca aparecia.
Assim que as fundações ficaram prontas, eles decidiram se livrar do empreiteiro e terminar sozinhos a maior parte do trabalho. Era outra maneira de economizar dinheiro e, além disso, eles disseram gostar de fazer o trabalho de construção.
No total, a construção da casa, que acabou em 2012, custou cerca de US$ 135 mil, incluindo materiais e mão de obra. Seu próprio trabalho, que não está incluído nesse valor, foi avaliado por eles em US$ 50 mil. Eles disseram que da próxima vez, vão abrir mão de empreiteiros, arquitetos e corretores imobiliários, que custaram outros US$ 18 mil no começo.
Esses custos foram contrabalançados com a doação de cerca de US$ 9 mil que a cidade lhes concedeu por terem um telhado verde, e eles economizam na conta de água por reutilizar águas pluviais com a pavimentação permeável, o jardim de chuva e um tanque para água de chuva de mais de 2 mil litros.
O paisagismo também suaviza o ar industrial do exterior e atrai pedestres, que param e tocam a campainha, fazendo perguntas e dando opiniões.
Os moradores não parecem se importar. Eles estão muito satisfeitos com a forma como os espaços interiores e exteriores fluem juntos, criando a impressão de uma casa mais ampla. E estão orgulhosos do desempenho da casa quanto à economia de energia.
Nada disso passou despercebido pelos vizinhos. Kim Conrow, 65 anos, que mora ao lado, ficou maravilhada:
- Nos fins de semana, eles vão a lugares e fazem coisas mesmo. Eles não estão amarrados aos projetos como a maioria de nós. Adoro a simplicidade dela.
Contudo, Conrow admitiu que ela nunca conseguiria compartilhar um armário com seu marido, como seus vizinhos.
Ainda assim, os benefícios falam por si.
Em nove meses, a hipoteca será paga na íntegra, o que vai deixar Copenagle e Kennel com custos mensais de uns US$ 370 de IPTU, serviços públicos e municipais e seguro.
Isso é bom, porque em breve eles terão de pagar o doutorado de Kennel. E Copenagle comprou um caiaque mais elegante para acompanhar o seu marido enquanto ele rema seu stand up paddle nos rios locais. Recentemente, eles também compraram 8,1 hectares no nordeste de Washington, sem água, gás nem energia elétrica, com uma vista incrível das Montanhas Cascade.
E as listas em guardanapos começaram novamente. Desta vez, a meta é 37,2 metros quadrados.
Economia
Casal opta pela simplicidade de uma casa pequena, além de sustentável
A construção do ambiente de pouco mais de 65 metros quadrados custou cerca de US$ 135 mil
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