Uma elevada duna no ponto eleito neste terreno para erguer a casa determinou o projeto arquitetônico para a área de pouco mais de mil metros quadrados, localizada em um condomínio residencial da Barrinha, litoral sul de Santa Catarina. O refúgio de veraneio, criado pelo arquiteto Rudelger Leitzke, de Pelotas, ocupa 321,7 metros quadrados de área, construído sobre pilotis de 1m a 1,5m de altura - dessa forma, o recurso permite que a areia se movimente por baixo da casa, assim como as correntes de ar e de calor.
- Ao fazer arquitetura, estão presente vários fatores condicionantes, tanto os convenientes quanto os inconvenientes. Era uma paisagem interessante, com vegetação nativa e uma zona de preservação que merecia ser mantida e respeitada. Assim, resolvemos puxar o conceito em função dela - explica Rudelger.
A autora do projeto paisagístico, arquiteta Susana Nedel, da Arquitetura de Jardim, confirma a intenção preservacionista, ao afirmar que o objetivo era o de compor uma paisagem o mais natural possível.
- Não é um jardim convencional, pois não há canteiro. Escolhemos árvores nativas e rústicas que se adaptam bem ao litoral e que contemplam os usos conforme a necessidade dos proprietários como, por exemplo, a privacidade - cita Susana.
Chama a atenção o detalhamento dado por Rudelger, que revela externamente como a morada resultou setorizada e ao mesmo tempo integrada. O arquiteto determinou que o concreto fosse tratado de duas maneiras distintas na fachada: liso na área que reveste a zona social e "relhado", com ranhuras aparentes e com aparência de placas, no que se refere aos espaços do hall e do setor de serviço. Revestem a área íntima tijolos contrafiados que, com visual mais quente, em função da cor, abraçam as suítes pelo lado de fora.
As quatro suítes têm portas de correr para o alpendre (acima), onde estão as redes e a vizinha ducha externa. No teto, o mesmo treliçado em madeira das aberturas foi aplicado no concreto para efeito espelhado como um detalhe arquitetônico. No deque frontal (abaixo), os esbeltos pilaretes podem receber lonas tensionadas de amarrar, acima ou lateralmente, para mais privacidade ou simplesmente para conter o vento, quando for o caso.
Dentro e fora
Formatada com quatro materiais - concreto, tijolo, vidro e madeira, a morada tem planta baixa em formato de L (abaixo), que contribui para a divisão das zonas social e íntima.
Distante uma quadra do mar, a construção tem entradas independentes diretamente pelas suítes. O acesso principal é seguido de um hall que une os dois eixos. A partir desta entrada é possível observar os diferentes níveis utilizados na casa baseada em pilotis de alturas variadas.
O chão ripado de madeira ipê permite a chegada despreocupada mesmo com a areia no corpo depois da praia. É nesse ponto que repousam as pranchas de surfe criadas pela designer Heloisa Crocco (abaixo) e as bicicletas suspensas em ganchos quando não estão em uso.
O piso interno, de cimento alisado, reflete no teto de concreto aparente, base para as luminárias tipo caixa, dentro da ideia de priorizar a funcionalidade da luminotécnica e não a estética. Também há a presença de concreto na maioria das paredes internas - algumas rebocadas e pintadas.
As aberturas de PVC branco têm portas de correr de vidro junto a uma de treliça de madeira, o que dá privacidade e permite ventilação cruzada e entrada de luz natural, como convém a uma casa à beira-mar.
No estar e no jantar, o cimento alisado no piso e o mobiliário branco (acima) - como as capas dos sofás, as cadeiras em polipropileno, com design de Piero Lissoni, e a bancada da cozinha em quartzo natural - cedem o protagonismo aos objetos coloridos. Esta é a área de convívio para os períodos de relaxamento na praia da família moradora de Porto Alegre - o dono da casa nasceu em Santa Catarina - composta por um casal com duas filhas.